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Somente a partir da década de 90 pudemos presenciar o crescimento da importância relativa do termo “Voluntariado” em função do crescimento mundial do 3o. Setor, formado por Organizações Sociais (Fundações, Institutos, Associações, Clubes, etc), notadamente em países como Espanha, Itália, França além, obviamente, dos Estados Unidos, referência mundial em trabalho voluntário organizado.

As diferentes formas de exclusão social, representadas aqui por suas mais perversas facetas e geradores – miséria, fome, desemprego, corrupção, crimes, novas epidemias, desamparo (crianças, idosos e deficientes), segregacionismos e racismos de qualquer espécie, desrespeito ao próximo, etc -, associadas à incapacidade dos governos em proverem às suas respectivas populações as formas de amparo de que estas necessitam, fizeram com que justamente estas populações começassem a se organizar socialmente, não raro sem o apoio de seus governos ou recursos de terceiros, e voltassem seus olhos e esforços para o auxílio de seu próximo (muitas vezes nem tão próximos assim) de forma mais preponderante, ativa e eficiente.

O paradoxo óbvio desta questão é que nos países ditos de 1o. Mundo, onde conseqüentemente o volume e as formas de exclusão social tendem a ser menores, notamos um desenvolvimento muito maior do chamado 3o. Setor. Isto se justifica a partir do momento em que se entende que consciência social e desenvolvimento sócio-econômico-cultural devem andar lado a lado, pois se retro-alimentam (estabelecem entre si feedback ativo). Ou seja, o ato de um indivíduo em se doar a uma causa, necessidade cruel dos países mais pobres, é proporcional à consciência que este tem desta causa e à importância que a ela atribui. Segundo Maslow, a natureza de um indivíduo mediano é passar a se preocupar com o próximo a partir do momento que pôde, por satisfação de sua escala de necessidades (pirâmide), deixar de se preocupar exclusivamente consigo próprio (i.e. venceu os desafios do famoso conceito “salve-se quem puder”).

No Brasil não é diferente. Nosso substrato atual, fruto da omissão social dos organismos públicos até o século XIX e do caráter de nossa colonização, onde estas funções eram conduzidas principalmente por religiosos (assistindo hospitais, asilos, hospícios, etc), nos possibilita afirmar que ainda somos, por mais ímpeto coletivo intrínseco que tenhamos enquanto povo, bebês em formação. Ao invés de organizações e movimentos sociais e voluntariado temos ainda, na grande maioria das vezes, grupos desordenados e voluntarismo. O Governo e suas instituições passaram a ser mais ativos a partir da década de 30, com o desenvolvimento de políticas assistencialistas, reforçadas posteriormente na era Vargas, onde então o Estado passou a pecar pelo excesso, ou seja, ao invés de ensinar e prover condições para a sociedade se auto-organizar em alguns quesitos, verticalizou e assumiu todas as obrigações e, obviamente, o tempo se encarregou de provar que quem tudo quer, nada faz… direito.

Seja em âmbito nacional, estadual ou municipal, essas políticas, derivadas das mais nobres intenções, naufragaram muito pela falta de planejamento, comprometimento ou até de envolvimento ativo dos interessados/beneficiados. A sociedade deve ser sócia dos projetos que lhe são direcionados, dividindo com o Estado, responsabilidades e resultados.

A partir da década de 70, principalmente com o agravamento das questões sociais no país e nossa exposição à realidade mundial, algumas figuras eminentes da sociedade nacional ou local passaram a liderar movimentos em prol de causas específicas (muitas correlatas às suas realidades e interesses pessoais), aglutinando simpatizantes. Nascem aí sementes de organizações sociais e de corpos de voluntários supostamente estruturados. No início, estes voluntariados eram, na sua maioria, compostos por mulheres muito bem intencionadas, mas pouco treinadas, envolvidas pela causa por opção ou afinidade. A realidade evolucionista da mulher brasileira, enquanto agente social, ainda estava no estágio da pré-emancipação total, ou pós-feminismo, e estas voluntárias trabalhavam por estas causas por que não trabalhavam. Produtividade, qualidade, compromisso e responsabilidade eram itens ignorados pela maioria dos gestores de voluntários. Chás de senhoras e eventos de caridade configuravam-se como as principais ferramentas utilizadas por este setor.

A administração empírica e “caseira” do ato de fazer caridade (sinônimo errado do binômio consciência-doação social, pois deste é somente um item) baseava-se na idéia central de que se devia auxiliar o próximo com ações de cima para baixo, com resultados muitas vezes aquém do necessário ou esperado. Qualquer administração compõe-se de pesquisa, análise, planejamento, implementação, acompanhamento e correções e a social não é e nem pode ser diferente.

A sociedade, por sua vez, via estas atividades de forma semi-positiva, já que não raro, eram desenvolvidas como trampolim social, meios de corrupção e ganhos de imagem para as pessoas ou empresas que a conduziam. Pior do que isto era a total ausência de satisfação e respeito que se dedicava às pessoas/comunidades que colaboravam com estas obras.

Assim se caracterizava a era primeiro-damista do voluntariado nacional, fruto do assistencialismo estatal, da participação paternalista da igreja e da segragação elitista que a sociedade mais rica da época impunha intencionalmente ou involuntariamente aos mais necessitados (ou seja, mais para o “ajudemos estes pobres coitados, pois também são gente”, do que para o “vamos desenvolver nossa sociedade auxiliando nosso próximo”).

Porém, esta fase foi o preâmbulo das formas mais modernas de organização social, como já podemos encontrar hoje em dia, mais agudamente no período pós Collor, que vem buscando incorporar em seu backround, conceitos, filosofias e procedimentos advindos do 2o. Setor, porém sem perder sua identidade e missão.

A profissionalização do 3o. Setor e, paralelamente, dos Times de Voluntários, visando produtividade (definida aqui não como ganho de mercado ou de lucro, mas como capacidade da organização em atingir sua missão primordial), qualidade (definida como capacidade da organização em melhorar o nível do atingimento de sua missão primordial), eficiência e competência (para poderem justificar socialmente sua existência) é fundamental para o desenvolvimento de nossa nação como um todo, já que esta é composta por nossa sociedade (agente ativo e receptivo dos benefícios gerados por estas organizações).

Outros itens como levantamento de fundos (fund-raising), gestão de associados (membership) e demais formas de interação com a sociedade, gestão de clientes, marketing e treinamento de recursos humanos devem ser igualmente priorizados. Não devemos esquecer que empresas do 3º. Setor são eminentemente de serviços e, portanto, prestação de serviços e qualidade de atendimento devem ser subsistemas priorizados pela gestão.

Somente este tipo de consciência possibilita o rompimento das barreiras ainda existentes entre a era primeiro-damista e a era profissionalizante (ou de transição), objetivando, no que tange ao voluntariado, a transformações dos corpos voluntaristas em unidades ágeis, treinadas e competentes nas práticas que constituem as premissas de um voluntariado moderno.

Assim, definimos Voluntariado, hoje, como a união de um grupo de pessoas competentes, comprometidas e não remuneradas em prol de uma causa comum. Como diz a pesquisadora do NEATs da PUC e mestre em Gestão do Trabalho Voluntariado Ana Maria Domeneghetti, é desta forma que devemos enxergar Voluntariado no Brasil e no mundo, pois este é o caminho mais realista para almejarmos atingir, num futuro mais breve possível, uma sociedade relativamente igual… ou seja, guardadas as devidas diferenças (reversíveis ou não), muitas até desejadas, compreendermos que somos todos parte de um mesmo todo.

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