Ao longo dos últimos anos, o contexto competitivo de grande parte dos setores e mercados passou por drásticas mudanças derivadas da Sustentabilidade, tanto no aspecto ambiental quanto no social, que os stakeholders (clientes e consumidores, opinião pública, funcionários, acionistas, fornecedores, etc) cada vez mais demandam e exigem, conforme cresce seu entendimento sobre a relevância (e potencial de impactos positivos) que uma postura mais consciente por parte das empresas pode gerar.
A ocorrência de catástrofes climáticas (e desastres sociais derivados) com magnitudes históricas (Haiti, Chile e Rio de Janeiro são apenas alguns exemplos) e o insucesso do poder público, governamental e político (COP15?) na definição de compromissos e metas para redução do impacto humano no meio-ambiente são alguns dos fatos que mais do que endossam a tese de que a mudança deve começar a partir do poder privado, de seus representantes com maior poder de influência e impacto, ou seja, grandes empresas locais, organizações e corporações globais.
Tal compreensão já pode ser sentida (e mostrar seus resultados) nas grandes cúpulas do top management global a partir de iniciativas sérias e comprometidas, distantes do green washing característico da 1ª onda do posicionamento em torno do conceito de “ser sustentável”. No Brasil, o cenário não é diferente e se percebe o avanço de empresas nacionais, com amplitude cada vez mais global, assumindo um papel de liderança e pioneirismo.
Porém, o risco derivado de um discurso sustentável descolado da prática, sem o fato tangível e perceptível de que as empresas fazem o que falam (walk the talk) é iminente e infelizmente ainda comum e corriqueiro.
Para se resguardar e proteger de falsas promessas, os interessados no comércio e negócios sustentáveis adotam as mais diversas práticas e dispositivos para assegurar de que uma empresa, produto ou serviço é efetivamente sustentável, desde a adoção de procedimentos de homologação que possuam critérios sustentáveis até a busca por selos, certificações e endossos de entidades e fóruns qualificados que comprovem a origem e DNA sustentável.
Dentre as mais diversas siglas que atestam tal procedência sustentável, a sigla ISE, ou Índice de Sustentabilidade Empresarial, é a principal referência que investidores, empresas e governos avaliam para a tomada de decisão em seus negócios.
Iniciativa da BM&FBOVESPA, em conjunto com várias instituições – ABRAPP, ANBIMA, APIMEC, IBGC, IFC, Instituto ETHOS e Ministério do Meio Ambiente – o ISE é resultado dos esforços para se criar um índice de ações que seja referencia para os investimentos socialmente responsáveis.
O ISE, em essência, tem por objetivo refletir o retorno de uma carteira composta por ações de empresas com reconhecido comprometimento com a responsabilidade social e a sustentabilidade empresarial, e também atuar como promotor das boas práticas da Sustentabilidade no meio empresarial brasileiro.
Assim, para avaliar a performance das empresas listadas na BOVESPA com relação aos aspectos de Sustentabilidade, o ISE conta com uma metodologia desenvolvida pelo Centro de Estudos de Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (CES-FGV), composta por um questionário que afere o desempenho das companhias emissoras das 150 ações mais negociadas da BOVESPA.
No ISE, as dimensões ambiental, social e econômico-financeira foram divididas em quatro conjuntos de critérios:
a) Políticas (indicadores de comprometimento)
b) Gestão (indicadores de programas, metas e monitoramento)
c) Desempenho
d) Cumprimento Legal
Além dos conceitos basais do Triple Bottom Line, a metodologia avalia outras 3 naturezas de indicadores:
a) Critérios Gerais, que questionam a posição da empresa perante acordos globais e se a mesma publica balanços sociais, por exemplo,
b) Critérios de Natureza do Produto, que questionam, por exemplo, se o produto ou serviço da empresa acarreta danos e riscos à saúde dos consumidores, dentre outros, e
c) Critérios de Governança Corporativa.
No que se refere especificamente à dimensão ambiental, as empresas do setor financeiro respondem a um questionário específico (em função da natureza de suas atividades), e as demais empresas são dividas em categorias conforme o grau de seu impacto ambiental.
Uma vez coletadas as informações que preenchem os indicadores do ISE, as companhias são avaliadas e categorizadas em grupos conforme desempenho. O grupo de empresas com melhor desempenho compõe a carteira final do ISE (que tem número máximo de 40 empresas).
A partir da aplicação dos critérios e indicadores da metodologia, acompanhamento rotineiro dos resultados e reavaliações anuais, o ISE – assim como outras certificações e réguas de sustentabilidade, como DOW Jones Sustainability Index, GRI, Indicadores Ethos, dentre outros – cumpre um papel fundamental na tangibilização do conceito da Sustentabilidade e na sua inserção como elemento crucial no processo de tomada de decisão.
É sabido, como percepção e fato, que empresas ditas sustentáveis geram maior valor para acionistas no longo prazo, pois estão mais preparadas para enfrentar riscos econômicos, sociais e ambientais. Implementar tais conceitos para a realidade e cotidiano das empresas representa o principal desafio encontrado por empresas e organizações engajadas na adoção, disseminação e transformação positiva de seu entorno.