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Sustentabilidade é um tema que vem atraindo grande interesse dos mais variados públicos. Sua importância cada vez mais é explicitada e comprovada com dados e acontecimentos que impactam a todos nós de forma extremamente perceptível. Todos percebem ou são afetados diretamente pela qualidade do ar, pela pobreza e miséria, pelo clima, pelos preços de produtos (que usam insumos cada vez mais escassos), pelos desastres naturais, pelas plataformas políticas (vide Marina Silva na última eleição presidencial), dentre outros.

Neste contexto em que ninguém pode se eximir das responsabilidades e impactos gerados pelas nossas próprias ações, este é assunto que afeta nada menos do que toda a humanidade. De alertas proferidos pelos chamados ecochatos à pauta de discussão de organizações internacionais, grupos de países, países, empresas, comunidades e famílias, todos parecem consensar, em alguma dimensão, que o futuro do mundo e de todos que nele habitam está sob-risco (sem falsos alertas ou extremismos).

Aquecimento global, efeito estufa, desertificação, derretimento das calotas polares, falta de água, poluição, extinção de espécies, novas doenças, violência, miséria, fome, etc… a ONU diz: “O mundo tem menos de uma década para mudar o seu rumo. Não há assunto que mereça atenção mais urgente – nem ação mais imediata” (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano PNUD /ONU/2008). Por exemplo, os gases retentores de calor emitidos em 2008 irão permanecer na atmosfera até 2108 e até para, além disso. É preciso mudar já.

Os efeitos econômicos decorrentes da poluição de nosso planeta e do uso indiscriminado dos recursos naturais também impactam a riqueza e a competitividade de países e até mesmo suas questões sociais. Em relação à agricultura (segundo estudo da Esalq /USP), em específico, no Brasil, prevê-se que a perda de áreas de cultivo de produtos agrícolas com grande importância econômica como soja, cana de açúcar, milho, café, arroz, feijão, mandioca e algodão, até 2020, vão contribuir para diminuir o produto interno bruto (PIB) em 0,29% (do que seria), assim como piorar a desigualdade de renda e concentração em regiões urbanas.

Na medida em que os custos dos alimentos tenderão a subir, será observado um aumento no custo de vida dos mais pobres e redução dos mais ricos, uma vez que o preço dos alimentos, que vai sofrer alta, corresponde a uma proporção maior do orçamento dos mais pobres. Já para os mais ricos, a maior parte do dinheiro é direcionada a serviços e bens industriais, cujos preços devem diminuir.

Os impactos podem ser observados e sentidos em praticamente todos os setores da economia. Entretanto, mais do que nunca, o cidadão comum (qualquer um de nós e todos nós ao mesmo tempo), como trabalhador, eleitor e consumidor tem o poder para mudar e influenciar este cenário fatídico e catastrófico para qual está rumando.

Segundo pesquisa realizada pela DOM Strategy Partners de 2010, elementos ligados diretamente à sustentabilidade, como critério de escolha do consumidor, passaram de 11ª. prioridade (em 2007), para 4ª. Outra pesquisa da GS&MD mostra que consumir equilibrando necessidade e desejo é o que define a visão de sustentabilidade para 45% dos brasileiros. Infelizmente, a maioria (86%) dos brasileiros acredita que sustentabilidade é preservar o meio ambiente. No mundo, essa percepção atingiu 74% das respostas.

No Brasil, reciclar o lixo apareceu em segundo lugar, com 75% das respostas e a percepção de que os recursos são finitos foi citada por 45% dos entrevistados (contra 50% dos consumidores de outros países).

É o consumidor, como elo final de toda cadeia de valor, quem decide o que e de quem comprar quanto pagar e o que valorizar. É por isso que iniciativas relacionadas a aspectos sustentáveis já são adotadas por uma crescente massa de empresas do varejo.

Certificação de origem de produtos, incentivos à utilização de sacolas retornáveis ou mesmo biodegradáveis, utilização e implementação de conceitos como eco eficiência, políticas de reciclagem de lixo e detritos, controle de perdas e desperdícios, dentre outras, são apenas algumas das práticas que estão influenciando, cada vez mais, os processos de decisão dos consumidores e, por decorrência, de gestão e investimentos das empresas.

A assunção de responsabilidade e o foco na ação por parte das empresas nos temas críticos e centrais da sustentabilidade são fundamentais para o sucesso de nossa empreitada humana contra nossa própria degradação, uma vez que, dentre as 100 maiores economias mundiais, mais de 50% são empresas privadas.

Pode-se concluir, portanto, que em termos financeiros, de alteração de paradigmas de mercado, de influência social, de derivação de recursos e de capacidade de mobilização, a responsabilidade de transformação econômica, social e ambiental das empresas – independentemente de seu tamanho e mercado – é tão importante quanto a dos Governos, principalmente se considerarmos os mercados globais.

Para endossar a tese acima, a revista MIT Sloan Management Review, junto com a consultoria The Boston Consulting Group , lançou uma pesquisa sobre o negócio da sustentabilidade (The Business of Sustainability), que apontou os seguintes achados:

  • “É consenso que as empresas terão um papel crítico nas questões referentes à sustentabilidade e 92% dos entrevistados dizem que suas empresas já estão trabalhando a questão,
  • Apesar disso, a maioria dos executivos concorda que as empresas ainda não estão alavancando as oportunidades e mitigando os riscos derivados da sustentabilidade de maneira decisiva,
  • A maioria das ações parece estar limitada a exigências regulatórias. 70% das empresas ainda não desenvolveram um caso claro para a sustentabilidade,
  • Mas, há um pequeno número de empresas que estão desenvolvendo a sustentabilidade mais agressivamente. Estas empresas estão ganhando vantagem competitiva e tendo impactos positivos em seus resultados,
  • Menos de 25% das empresas reduziram seu compromisso com a sustentabilidade no período da crise. Por outro lado, as indústrias automobilísticas e de mídia/entretenimento aumentaram este compromisso no mesmo período,
  • As lideranças vêem a sustentabilidade não apenas como oportunidade para melhorar a imagem, mas como parte integral da geração de valor do negócio e.
  • “Quanto maior o conhecimento dos entrevistados sobre sustentabilidade, mais bem conseguem avaliá-la e mais oportunidades identificam para as empresas.”

Em conclusão, pode-se afirmar que as práticas tradicionais de comprar, produzir, fazer negócios, venderem, distribuir e manquetear estão sendo questionadas radical e irreversivelmente. Novos padrões e modelos de negócios virão em substituição dos atuais modelos da era industrial e dos serviços de escala.

Aparentemente, estamos diante de uma profunda mudança em um velho e estabelecido ditado, que nos é ensinado – pelo menos a todos os administradores: de “Administrar se trata de gerenciar recursos escassos”, para algo como: “Administrar se trata de criar, gerenciar e circular recursos renováveis”.

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