O Globo, Fevereiro – 2016
Para analistas, rivais tentarão ampliar oferta para atender clientes, já ‘órfãos’ do HSBC
SÃO PAULO – O anúncio da saída do Citi do mercado de varejo bancário do país tornará mais restritas as opções de acesso a serviços bancários dos brasileiros em viagens ao exterior. Isso porque são os grandes bancos internacionais que oferecem a maior parte das facilidades disponíveis, com o objetivo de atender clientes que viajam com frequência ao exterior, ou mesmo que vivem alguns meses do ano fora do Brasil.
Presença. O Citi tem 71 agências e 450 mil correntistas no Brasil. Em junho de 2015, ativos eram de R$ 70,6 bilhões Santander e Itaú podem comprar setor de varejo do Citigroup, dizem analistas
Unidade do Citibank na Avenida Paulista, em São Paulo Fim da operação de varejo do Citi no Brasil faz parte de estratégia global
Filial do Citibank em Washington, EUA Citigroup vai vender bancos de varejo em Brasil, Argentina e Colômbia
Fachada de agência do HSBC. Institução está entre as que registraram perdas Na contramão de gigantes, 22 bancos menores ficam no vermelho em 2015
Esses grandes bancos têm por estratégia criar pacotes de serviços específicos para esse grupo de clientes. No caso do Citi — que iniciou na semana passada um processo para vender sua operação de varejo aqui —, por exemplo, é possível ter acesso a saques ilimitados na rede do banco no exterior, sem custos. Uma vantagem em relação às tarifas cobradas por bancos brasileiros, como Bradesco e Itaú Unibanco, que oferecem esse serviço, mas que repassam ao cliente os custos do uso de uma rede de terceiros no exterior, como Visa Plus e Cirrus.
Mas a gama de serviços vai além. O Citi também oferece saques emergenciais nas suas agências em caso de perda ou roubo do cartão e não cobra no envio de recursos do exterior. E ainda ajuda a abrir uma conta fora do país, com a transferência do histórico de relacionamento com o cliente no Brasil para o Citi nos Estados Unidos, por exemplo, o que facilita o acesso a linhas de crédito lá fora.
SANTANDER VAI AMPLIAR OFERTA
Essa vantagem também está presente no HSBC, cuja operação brasileira foi vendida para o Bradesco em agosto do ano passado. O banco oferece muitas facilidades para a transferência de recursos entre a conta no Brasil e aquela no exterior.
— Você tinha três bancos que se propunham a isso no Brasil. O Santander, que tem uma atuação menos forte, o HSBC e o Citi. Com relação aos serviços prestados pelo HSBC, não se sabe como ficarão após a fusão com o Bradesco. E o Citi está nesse estágio de apagar as luzes para o varejo brasileiro — diz Daniel Domeneghetti, presidente da consultoria Dom Strategy Partners, especializada em estratégia corporativa.
O Santander, por enquanto, só permite que os correntistas usem o cartão da conta para fazer saques no exterior — o que também é ofertado por Bradesco, Itaú Unibanco e Banco do Brasil. Mas informou que prepara para os próximos meses o lançamento de mais serviços destinados a quem vai com frequência ao exterior.
Na avaliação de Domeneghetti, é pouco interessante para um banco brasileiro, sem rede no exterior, intensificar a oferta desse tipo de serviço. Isso porque, em relação à base de clientes, o número de beneficiários é considerado pequeno. Mesmo o primeiro serviço que vem à cabeça de quem vai viajar para o exterior — a compra de moeda estrangeira — já não é o forte dos grandes bancos brasileiros de varejo:
— É um serviço que não gera um grande volume. Os clientes que querem investir, em geral, já são atendidos pelas estruturas de private banking (atendimento a milionários). Eles até oferecem alguns serviços para o público de alta renda, mas não é um diferencial grande para eles.
Com a saída do HSBC e, possivelmente, do Citi, o diretor de desenvolvimento de negócios da Western Union, Luiz Eduardo Citro, avalia que os demais concorrentes ganhariam espaço para explorar esse tipo de serviço. No entanto, ele concorda com Domeneghetti que os bancos brasileiros têm pouco interesse em atuar em transações internacionais de menor valor.
— Nas operações de até US$ 5 mil conseguimos ser mais competitivos porque os bancos têm um custo maior na hora de fazer uma remessa, por exemplo — explica Citro, afirmando que, apesar da retração da economia, existe a demanda de brasileiros para remeter dinheiro ao exterior, para um parente que esteja estudando ou em tratamento médico.
De olho nesse público, a Western Union quer ampliar sua oferta de serviços, como facilitação de depósitos no exterior e pagamentos. Citro lembra que, no Brasil, um banco tem espaço menor para trabalhar a custos baixos com serviços no exterior devido aos gastos de manutenção de uma rede ou de uma parceria. Por outro lado, apesar da crise, ele não vê redução no interesse por esse tipo de produto:
— O Brasil já está globalmente isento nesse segmento. Vamos explorar mais os serviços de pagamentos internacionais.
Embora não disponha de uma grande rede no exterior, o Banco do Brasil oferece alguns serviços específicos para os clientes que moram no exterior ou que precisam abrir uma conta nos Estados Unidos ou no Japão. No Caso do BB Américas, é possível ter acesso a cartões de crédito e operações de financiamento. A carteira total, em setembro, era de R$ 859 milhões.
CAIXA PERMITE ACESSO AO FGTS LÁ FORA
No Japão, além de algumas agências nas localidades em que há grande concentração de brasileiros, o banco tem uma unidade de atendimento móvel. E, para todos os correntistas, há a opção de saque no exterior sem o cartão, em um serviço chamado de saque móvel.
Mas, se por um lado esses serviços são voltados para o cliente de alta renda, há também uma preocupação com o brasileiro que viaja ou vive no exterior. Em 2010, por exemplo, a Caixa Econômica Federal, em parceria com o Ministério das Relações Exteriores, começou a oferecer a possibilidade de saque do FGTS a quem foi morar no exterior e não resgatou os recursos recolhidos em seu último emprego antes de deixar o país. As regras são as mesmas para o cidadão que está no Brasil: doença grave, compra da casa própria ou falta de movimentação há mais de três anos — é por essa última alternativa que boa parte dos brasileiros fora do país acessa o benefício.
— É um serviço que existe em 24 países e já foi usado por quase 5 mil brasileiros, com R$ 170 milhões liberados. São pessoas que não podem voltar para o Brasil. Também temos acordo para remessas de dinheiro do exterior para a Caixa. No ano passado, o movimento foi de R$ 600 milhões, um crescimento de 50% — conta Beatriz Vianna, superintendente de operações internacionais da Caixa, que espera um aumento dos valores, uma vez que, com a retração da economia, cresce o interesse de brasileiros por trabalho no exterior.
E o banco está de olho na sua clientela que deseja a facilidade de sacar diretamente de sua conta corrente no exterior, serviço já oferecido por todas as outras grandes instituições. Segundo Vianna, a Caixa já trabalha para que os cartões de conta corrente tenham essa funcionalidade.
Sem o Citi, brasileiros perdem facilidades em serviços no exterior
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