O capitalismo evolui por meio da seleção natural entre as empresas. Aquelas mais adaptadas às mudanças sócio-econômicas, políticas, setoriais e mercadológicas são as que logram sucesso no duro desafio de sobreviver – e não são necessariamente as maiores e/ou melhores.
A volatilidade e a longevidade das empresas participantes do ranking da Fortune 500, conceituada publicação com as maiores empresas do planeta, têm ratificado o velho clichê de que resultados passados não garantem resultados futuros, ano após ano.
Pela primeira vez desde a sua criação, em 1995, a primeira empresa do ranking não é americana. Na última publicação, os EUA apresentaram o pior resultado dos últimos 14 anos, contando com apenas 140 das 500 maiores empresas.
A China com 9 novas empresas introduzidas este ano – e ocupando 5ª posição, com 37 empresas no ranking – é, sem dúvida, o país mais promissor em termos de evolução de representatividade no ranking. Os 3º e 4º lugares ocupados respectivamente pela França com 40 empresas e a Alemanha com 39 podem ter suas colocações alteradas em um breve espaço de tempo.
Um terço das companhias listadas na “Fortune 500” em 1970 já não existiam em 1983.
Segundo um estudo de Leslie Hannah, uma historiadora da Universidade de Tóquio dedicada ao registro da atividade empresarial, a “meia-vida” média de grandes empresas – ou seja, o tempo necessário para a morte de metade das cem maiores empresas do mundo por capitalização de mercado num ano qualquer – foi de 75 anos, durante o Século 20.
Razões não faltam para explicar os altos níveis de volatidade e de taxa de mortalidade de empresas que, em períodos recentes, apresentavam desempenho superior a seus concorrentes, ocupando posições de destaque em seus setores e na economia mundial. Parte dessas razões é fundamentada em fatores endógenos às companhias, principalmente relacionados à má gestão, planejamento ineficiente, planos de sucessão errôneos, baixo apetite ao risco, falta de inovações, medo de mudanças e, principalmente, à baixa sensibilidade para enxergarem o meio em que estão inseridas, não aproveitando oportunidades e/ou ignorando ameaças, rupturas de modelos de negócio, rupturas tecnológicas e obsolescência de produtos ou serviços.
Por outro lado, os fatores exógenos tais como influências de políticas governamentais regionais (afetando segmentos e setores), mudanças de comportamento sociais, retrações ou expansões da economia, assim como saturações de mercado e mudança no perfil dos consumidores/clientes acabam por levar empresas saudáveis a situações críticas de saúde.
Atualmente, ainda vemos um outro movimento de mercado com significativo impacto na criação de novas empresas mais robustas e com maior poder de fogo: fusões e aquisições, respondendo a uma conjuntura de mercado onde a união com um rival ou com alguma outra empresa com ativos e expertises estrategicamente complementares resulta na criação de “gigantes” corporativos, teoricamente mais adaptados às exigências futuras de mercado e, portanto, com maior grau de competitividade perante seus concorrentes diretos e potenciais.
Dentre os traços mais comumente identificados dentre as empresas mais longevas e economicamente mais bem posicionadas estão fatores como o crescimento constante e a capacidade de lidar com situações adversas, reinventando seus negócios sistematicamente, assim como sua forma de atuar.
“Para não ficar pelo caminho, as empresas têm de ter paixão por mudança, experimentação e inovação” (Jerry Porras, professor da Stanford Business School). Por outro lado “as empresas precisam apegar-se aos seus fundamentos e, ao mesmo tempo, mudar constantemente” (Jim Collins).
É através das organizações que os humanos também sobrevivem. E o segredo dessa perpetuação é saber permanecer em harmonia com o mundo que os rodeia. Isso é um processo de aprendizagem e coragem.
O mais velho membro da Les Henokiens (fraternidade da qual participam companhias com pelo menos 200 anos de idade, que permaneceram durante todo o tempo sob controle de uma só família, são financeiramente saudáveis, “modernas” e ainda hoje continuam sendo comandadas por um membro da mesma família) é a Hoshi, uma hospedaria japonesa fundada em Komatsu, em 718. Dirigida por Zengoro Hoshi, pertencente à 46ª geração da família à frente do negócio, o lema da empresa é incomumente prático, mas assustadoramente atual: “Cuide do fogo, aprenda com a água, coopere com a natureza”.