No Varejo, Janeiro, 2017
O que dizem consultores e economistas sobre o ano que mais levanta dúvidas do que certezas? A reação do varejo é parte da resposta
Artur Grynbaum, do Grupo Boticário: “Temos conseguido manter os resultados positivos com previsão de crescimento de um dígito e volumes praticamente estáveis com relação ao ano anterior mesmo em um ano de queda no consumo”
A marca de óculos norte-americana NYS Collection, presente em 40 países do mundo, começou a traçar o planejamento para operar no Brasil em 2012. Naquele ano, o Brasil ainda apresentava crescimento e era bem visto pelos investidores internacionais. O plano inicial era abrir 200 lojas entre cinco e oito anos para atender a também crescente classe C. Quando desembarcou de fato no País, em 2013, porém, a situação começava a se reverter, dando os primeiros sinais claros da crise econômica que viria em seguida.
“Tivemos de reestruturar os planos”, afirma Cristiane Capella, diretora da NYS Collection no Brasil. Naquele momento, os preços tiveram de cair, principalmente porque a marca importa 100% dos óculos que vende e o dólar já iniciava trajetória de valorização. A redução foi de 25%, pressionando ainda mais as margens da companhia. Com 21 operações abertas, o faturamento também não aconteceu da forma planejada.
O ano não foi difícil apenas para a NYS Collection. O varejo tem sentido os efeitos da crise nos últimos dois anos. A previsão é que as vendas do varejo caiam 6,5% neste ano. “Assim como 2015, 2016 foi um ano de ajustes”, explica Izis Janote, economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). O que se viu foram redes fazendo movimentos mais frequentes de liquidação e demissões.
A busca foi em redução de custos e aumento da eficiência. “Alguns investimentos que temos presenciado nesse sentido são relacionados a novos modelos de negócios e de entrega”, afirma Ricardo Neves, sócio da PwC. “Como em qualquer crise, esse foi o varejo tentando fazer mais com menos”, diz. O varejo fez ainda mais, mas ainda assim amargou perdas. Os esforços agora estão concentrados em 2017, o ano que promete ser do recomeço. Será? “A mensagem é de melhora, porque pior do que está não dá”, afirma Daniel Domeneghetti, sócio da DOM Strategy Partners.
Essa melhora, porém, não indica alívio. Ao contrário, o País ainda passa pela pior crise da sua história recente e para sair dela não basta uma mudança de calendário, acredita Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos. “Vamos ter crescimento medíocre, mas vamos consolidar o quadro de interrupção da depressão e ver sinais de inflexão da economia”, afirma. A economista é cética sobre uma retomada já em 2017, como pregam alguns analistas. “Não dá para tirar o paciente da UTI tão rápido”, alerta.
Incerteza é a palavra mais adequada para 2017, segundo o professor de economia da Fecap, Erivaldo Vieira. “A incerteza é tanto interna, com questões atreladas a instabilidade política, que gera demora nas decisões; como externa”, explica. Quando se fala em varejo, alguns indicadores, como mercado de trabalho, renda, inflação, juros e confiança, atuam de forma direta no desempenho do setor. Entender o caminho que eles tendem a tomar em 2017 influencia diretamente a construção da estratégia das redes.