Globo Rural – Outubro 2015
Pelo Melo é autor de um trabalho mostrando que os diversos agentes do setor se mostram divididos em relação ao assunto
Qual o grau de sustentabilidade na pecuária brasileira? A pergunta foi feita a representantes da cadeia produtiva – entre produtores, indústrias e outras instituições – em uma pesquisa sobre o assunto. Em uma nota de zero a 10, a média, com base nas respostas, foi 5,37. “Dá para dizer que a gente ainda está no meio do caminho. Ainda não temos todas as práticas implementadas, mas em alguns elos da cadeia, isso já está um pouco mais estruturado”, afirma o consultor Pedro Melo, da consultoria DOM. Ele é o autor do estudo “Sustentabilidade na Cadeia de Valor da Pecuária”, feito pela consultoria em parceria com a Fundação Espaço Eco, ligada à multinacional Basf. O trabalho foi encomendado pelo Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável – GTPS.
O trabalho procurou saber quais os assuntos que mais preocupam o setor quando o assunto é práticas sustentáveis. Os temas mais mencionados pelos pesquisados foram classificados de acordo com uma pontuação. A rentabilidade se mostrou a principal, com pontuação 9,3. Depois aparecem regularização fundiária e ambiental (9,2 pontos), uso da terra (8,8) e saúde e segurança no trabalho (8,8 pontos).
Melo explica que os resultados refletem uma divisão da cadeia da pecuária em relação à sustentabilidade. Na avaliação do consultor, essa diferença de opiniões é positiva e pode representar uma oportunidade de trabalho mais integrado por parte dos diversos agentes do setor, principalmente, melhorando a eficiência na gestão. Atuar de forma sustentável, lembra o pesquisador, é importante, por exemplo, para obter acesso a novos mercados.
“É importante que se tenha a visão de negócio como algo viável para a rentabilidade e os reinvestimentos no setor. Para que cada elo da cadeia possa reinvestir na sua atividade e também na sustentabilidade”, defende ele. No entanto, destaca a questão fundiária como fator que pode inibir os investimentos. Pedro Melo conclui que, na visão do setor de pecuária, não adianta apenas ser rentável quando não se sente seguro para investir. E o ambiente atual ainda traz insegurança jurídica para todos os elos da cadeia. “Tem todo um arcabouço legal de questão fundiária que deve ser regularizado.”
De um modo geral, ele considera que temas como saúde e segurança no trabalho estão entre os que mais avançaram no caminho para a sustentabilidade na pecuária. “Estamos mais próximos do que seria o ideal”. Entre os assuntos que ainda têm uma carência maior, está o uso da terra, ligado às boas práticas de manejo. “Ainda é preciso avançar um pouco mais na questão de rotação de culturas, integração lavoura-pecuária. Nesses aspectos, eu diria que ainda há uma oportunidade”, avalia Pedro Melo.
Diante dos vários aspectos tratados na pesquisa, alguns mais avançados, outros menos, o consultor avalia que, mesmo ainda tendo muito trabalho pela frente, a cadeia produtiva da pecuária assimila, de um modo geral, a importância de ser cada vez mais sustentável. “Falar da palavra sustentabilidade ainda é grego, o conceito em si ainda não é muito claro. Mas quando a gente começa a falar, explicando o que ele acha relevante, dando mais detalhes, as pessoas não entendendo a importância. e cada vez mais a visão está deixando de ser de curto e passando a ser de longo prazo”, acredita o consultor.