Segundo o raciocínio do famoso Capitão Nascimento no filme Tropa de Elite, estratégia é a disciplina pela qual seus liderados deverão ter muito cuidado e atenção para que literalmente não explodam toda sua tropa, colocando fim à empreitada de seu batalhão na luta contra a criminalidade.
A aula de estratégia do capitão Nascimento, apesar da finalidade militar, ilustra com clareza a necessidade de uma estratégia ser bem comunicada, compreendida e aplicada pelos liderados e tem plena analogia para estratégias de empresas e negócios.
O segredo de uma boa estratégia, independente do objetivo para o qual foi elaborada, é sua aplicabilidade e correta execução, motivo pelo qual empresas que aparentemente não possuem grandes e sofisticadas estratégias podem obter resultados superiores (ou tão bons quanto) aos das empresas que se empenham em desenvolvê-las mais formalmente.
Isso porque, mais do que um planejamento detalhado e minucioso, a finalidade de uma estratégia é orquestrar recursos e iniciativas a fim de se atingir um objetivo de forma mais eficiente e competitiva que os concorrentes; ou atender a uma demanda, necessidade ou desejo de determinado público de interesse de forma efetiva e que o satisfaça; é traçar a rota, caminho e diretrizes para que se alcance o melhor resultado mais rápido, com menos voltas e menos desvios na infinitude de possibilidades; é adotar a bússola que orienta e norteia a viagem com segurança. Estratégia não é fim; é meio!
Muitas são as analogias possíveis para ilustrar a finalidade única de uma estratégia e dentre elas está proporcionar o caminho como protagonista rumo ao futuro. Um protagonismo que tem sua dose de simplicidade, perspicácia, bom senso e intuição, pois sistemas de navegação modernos e roteiros minuciosamente detalhados não fazem um bom viajante; muito mais levam ao lugar comum. Atingir o êxito está na maioria das vezes em encontrar o óbvio antes ou de maneira mais assertiva que os outros, o que evidentemente está aqui na nossa frente, mas nem sempre enxergamos.
A Alpargatas é um óbvio exemplo: criadas em 1962, as universais sandálias Havaianas ficaram conhecidas pela comodidade e por estarem nos pés de todas os brasileiros, especialmente das pessoas “comuns”. Com o tempo, sua proposta de valor – das sandálias que não deformam, não tem cheiro e não soltam as tiras – precisou ser reinventada para que a marca atingisse o patamar de prestigio que hoje desfruta.
De simplórias a ícones fashion, as sandálias Havaianas passaram por um processo de inovação que foi responsável por levar a marca a mais de 80 países, colocar 5,5 mil dos 17,5 mil funcionários fora do Brasil e trazer 33% da receita em moeda estrangeira.
Na prática, mudaram-se cores, ajustaram-se modelos e definiram-se novos significados para um produto que já era conhecido e adorado pelo mercado. Este caso evidencia o sucesso de uma estratégia tão complexa quanto entender a evolução de seu público e sintonizar-se com ele ao longo do tempo, simplificada e aplicada com disciplina e envolvimento pleno da empresa.
Desde a “revolução da estratégia” fomentada na década de 70 por empresas e metodologias específicas, diversas companhias ampliaram significativamente a adoção de ferramentas de formulação estratégica e planejamento, reforçando a crença de que uma boa estratégia é o caminho para a evolução dos negócios. Porém, em cenários cada vez menos previsíveis a datas de validade significativamente mais curtas, o aspecto inovação e a capacidade de a empresa responder rapidamente ao seu ecossistema assumem prevalência em relação a outros quesitos.
Estratégias eficazes são aquelas que produzem melhores resultados, pois estes são sua única régua. Por isso também, em geral, estratégias eficazes se resumem muito mais a grandes diretrizes e linhas de atuação bem assimiladas e executadas por toda empresa do que qualquer outra coisa desdobrada em 500 indicadores.
…pois, mais do que isso, é como estar em uma noite escura, como uma granada ativada na mão esperando a inevitável fadiga que irá detonar o sucesso de uma brilhante e minuciosamente elaborada teoria estratégica.
Não é mesmo senhor recruta Zero-Cinco? Estamos todos confiando no senhor…