Dados os devidos
resguardos ligados aos inúmeros questionamentos surgidos em cima do caso
Bettina, a propaganda da Empirucus Research trouxe à tona a discussão
sobre a necessidade da publicidade histriônica a qualquer custo. Vale a
pena gritar aos quatros ventos com conteúdos publicitários alarmantes,
focados única e exclusivamente no despertar da atenção de clientes e
potenciais consumidores? É válido correr esse risco, causar polêmica e
colocar à prova a idoneidade do negócio por meio de uma mensagem
burlesca?
Sim, vale a pena. Em tempos de fragmentação de canais, a
publicidade histriônica é uma alternativa de divulgação e captura de
atenção eficaz. A TV não é mais o meio imperativo para se veicular uma
propaganda, como foi desde a década de 1950 até meados da década
passada. A rádio, ainda que sobreviva com robustez, também não tem
hegemonia. Revistas e jornais diários? Bem sabemos como está a mídia
impressa.
Há diversas outras vitrines atualmente: Facebook,
Twitter e o próprio YouTube estão aí para comprovar a potência de se
atingir – em uma só tacada, a custos muito baixos – um público estimado
de 10 milhões de internautas segundo dados do IBGE, de dezembro de 2018.
Com a disposição dessas plataformas de comunicação em larga escala, o
consumidor, cada vez mais conectado e interativo, demanda atualmente das
empresas um relacionamento 360º baseado em conteúdos inovadores,
transformadores e, sim, atraentes, o que para algumas situações pode e
deve ser histriônico.
Para angariar atenção e relevância em meio à
profusão de mídias e canais móveis e convergentes é preciso, muitas
vezes, se valer do verbo imperativo, do velho call to action
reestilizado para mundo digital no click ‘to see’, ‘to interact’, ‘to
buy’, ‘to belong’. A percepção aqui não precisa e nem deve
necessariamente estar ligada ao politicamente correto de forma gratuita.
Está relacionada puramente à capacidade da marca envolver e motivar as
pessoas ao seu redor em torno de uma ação, gerando resultados de
audiência, adesão e/ou transação acima do esperado. Em outras palavras:
efetividade.
Assim, mensagens como ‘Não compre carro amanhã’ ou a
clássica ‘tesourinhas do Mickey’, vociferando imperativamente um ‘Eu
tenho, você não tem’, ilustram, às suas maneiras, a jogada de disparar
certos gatilhos emocionais na cabeça do consumidor, apelando para suas
necessidades históricas, reais, potenciais ou mesmo fictícias.
Produzindo, dessa forma, via tentação, medo, tesão, curiosidade ou
qualquer outro sentimento uma ponte direta para o modo emocional,
pulando a capacidade cognitiva-racional do processo de escolha do
consumidor.
O case Bettina entra para essa galeria e reforça a
corrente clássica da propaganda e marketing, calcada no mote de que não
existe publicidade negativa. Gostando, ou não, os efeitos foram
positivos para a Empiricus nos últimos dias. E até para a própria
Bettina. É melhor que as pessoas estejam falando sobre sua marca, já que
sempre falarão mal neste mundo hiper opinativo.
Afinal, ainda
vale aqui outra máxima: ‘Quem não é visto, não é lembrado’. Entretanto,
algo mudou e surfar na onda do ‘fale bem ou fale mal, mas fale de mim’
não traz mais desvantagens para as empresas dispostas a se enquadrarem
na categoria ‘correr grandes riscos reputacionais e lidar com isso’.