Parece uma eternidade que Kjell Nordström e Jonas Ridderstrale lançaram seu livro Funky Business. “Bacana”, na acepção da palavra, os dois professores da Faculdade de Economia de Estocolmo optaram por escrever um livro como eles, ou seja, totalmente fora dos padrões tradicionais do mercado literário de negócios. Carecas do estilo gótico, com aparência pós-moderna, quase techno, praticamente clubbers, os autores dão ao enredo uma levada peculiar. O tom da escrita é diferenciado, a diagramação caórdica, enfim, tudo que contorna a obra tem seu tom de estranho. Mas o mais importante: o conteúdo, as idéias, os conceitos são provocantes, únicos, inquietantes e corretos para o tempo em que viveremos.
A abordagem inicial trata da sociedade como a conhecemos; sua história, seus vícios, impurezas organizacionais e monotonias, repetições, hipocrisias. Segue-se um apanhado geral sobre os principais modelos corporativos, tanto competitivos, como operacionais, vigentes, ressaltando seus pontos fortes – que afirmam não mais funcionarão – e suas as fraquezas estruturais – refletidas nas empresas quando comparadas com a evolução das sociedades e dos mercados rumo ao mundo livre e flexível do Conhecimento.
As empresas precisam se reinventar e isso não é franquia dos suecos. Para eles, reinvenção não significa ajustes cosméticos ou mudanças de 15o. Reinvenção também não significa às indústrias se tornarem empresas de serviços ou às empresas de serviços adotarem foco no consumidor. Tampouco significa investimento em tecnologia ou Internet puramente. Todos esses movimentos são reais, importantes, mas não mais diferenciais.
O dia a dia corporativo quadrado está com os dias contados. É o ocaso do “by the book”.
A morte das empresas atuais será a morte de seus profissionais, ou de grande parte deles. As mudanças sociais mudam as empresas, que mudam nossas vidas… e esse é o processo de retroalimentação que saiu do controle das empresas. Ainda bem! Sociedades e empresas devem evoluir, inter-evoluir, aprender mutuamente.
Nordström e Ridderstrale apontam para a verdade indiscutível que a era dos produtos morreu. Culpa da qualidade, da ISO. Anos depois, nos dias de hoje, podemos inferir também que a era dos serviços, do soberano foco no cliente, como o conhecemos, também está morrendo, como diferencial sustentável, mais rápido do que se podia prever. Isso porque a homogeneização da qualidade no processo de prestação de serviços, uma exigência cada vez mais viva dos clientes, os torna, por equivalência, impossíveis de serem considerados diferenciais competitivos. Conclusão inexorável: as empresas precisam urgentemente procurar uma forma de aparecer, de existir, de ter uma razão real para existir. Precisam ser únicas, diferentes, diferenciadas. Precisam parecer únicas, diferentes, diferenciadas. Serem e parecerem ser. Serem e serem percebidas como tal.
Para não ficarem somente na retórica analítica, os suecos propõem o que chamam de soulmarketing, ou marketing da alma, integral. O que é soulmarketing? É conquistar o consumidor em seu âmago, em sua totalidade.
Como fazer isso? Uma das formas é a adoção do modelo chamado RAID, que sugerem para o planejamento do processo de atração, posicionamento de percepção, modelagem de experiências, gestão interativa de relacionamentos e contínua superação de expectativas e ações de encantamento dos clientes. RAID quer dizer Razão, Afeição, Intuição e Desejo, ou seja, envolver-se com o consumidor em sua totalidade integrada: Cérebro + Coração + Estômago + Sexo. Essa proposta é poderosa para os novos tempos e seus novos modelos de sensibilização e novas regras de interação empresas X clientes.
Mais uma dica importante dos autores que vale ser realçada: inventar conhecimento é menos eficaz do que combinar conhecimentos… por que combinar conhecimentos existentes significa, de fato, criar conhecimento. E é aqui que a inflexão do capitalismo, na era do conhecimento, se torna evidente.
Ou seja: “há um pequeno problema. Karl Marx estava certo.” (Funky Business, p. 18), por que grande parte das questões da chamada era pós-industrial resumem-se implicitamente nessas sentenças, o que pode, à primeira vista, parecer contraditório. Afinal, estamos na época da vitória do capitalismo. Mas, de fato, Marx rinha razão quando pensava que os trabalhadores assumiriam o poder; eles detêm, hoje, o principal meio de produção de riqueza: o consumo. Através da escolha entre uma empresa e outra, um produto e outro, o trabalhador-consumidor decide aos poucos quem sobrevive e quem morre no mercado.
Essa questão provoca uma total mudança de cenário. Torna-se necessária uma total reformulação nas filosofias empresariais. Estamos lidando com situações complexas, que exigem todo tipo de raciocínio com o único objetivo de atingir o cliente. Muitos atribuem esse papel erroneamente apenas à propaganda e às vendas. Não percebem que, na verdade, a orientação para o mercado penetra e abala a própria espinha dorsal da instituição.