A inserção das empresas dentro de um contexto global de competitividade crescente, acirrada pelo aumento da complexidade nas cadeias de valor – vide transformações significativas na amplitude de atuação, modelos de relacionamento, canais e mídias adotadas pela empresa -, assim como a mudança substancial do papel e do poder do consumidor/cliente, agora agente ativo na construção e influência da imagem da empresa perante seus stakeholders, coloca as organizações em uma situação em que diferenciar-se e fazer-se percebida como diferente, seja pelo produto, serviço, tecnologia, atendimento ou outro atributo que faça parte da matriz decisória dos clientes, é cada vez mais fator critico de sucesso associado à real capacidade de sobrevivência da empresa no mercado.
Produtos, serviços, tecnologias e mesmo atendimento, cada vez mais, tornam-se atributos que, de per se, não promovem um status de diferenciação sustentável de longo prazo às empresas. A massificação de padrões e standards de qualidade, garantidores da eficiência em processos e custos, bem como o avanço das tecnologias e dos modelos de produção, vêm propiciando a oferta, pelas empresas competidoras em um determinado segmento, de produtos e serviços cada vez mais similares em termos de especificações, qualidade e funcionalidades, o que as torna, assim por dizer, representantes do “mais do mesmo”, ou seja, detentoras de propostas comoditizadas para seus públicos. Temos, portanto, que a diferenciação um pouco mais sustentável deve residir em algo capaz de “quebre” os padrões estabelecidos, algo que seja realmente diferente.
O reconhecimento da inovação como fonte importante de diferenciação competitiva e, conseqüentemente, de desempenho superior impõe uma série de desafios às empresas e interessadas na criação de um ambiente propício à criatividade aplicada ao resultado, que passam por questões como ambiente aberto de comunicação e aprendizagem; evangelização, agregação e premiação de colaboradores; construção e compreensão de cenários e possibilidades; planejamento estruturado e adoção de indicadores e métricas passíveis de serem avaliadas comparativamente ao longo do tempo. Romper com a zona de conforto calcada nas práticas e no sucesso do passado é fundamental, uma vez que não são mais suficientes para armar significativamente a empresa no ambiente econômico e social em que está inserida.
Entretanto, para que as empresas possam acompanhar as rápidas mudanças em curso em seu ecossistema competitivo e assim inovar, primeiramente esse ecossistema precisa ser um ambiente indutor de inovações de forma sistêmica, ou seja, conter elementos em sua organização capazes de incentivar e premiar recorrentemente o surgimento de inovações geradas por seus atores.
Assim, torna-se de extrema relevância a aquisição de novas capacitações e conhecimentos de maneira contínua e em modelo de feedback positivo intermitente entre os atores, o que significa intensificar a capacidade de troca e aprendizado entre indivíduos, empresas, organizações e países.
De acordo com o Prof. Henry Etzkowitz, co-autor do conceito de Hélice Tríplice, o processo de inovação flui das interações entre atores das esferas institucionais de cunho governamental, empresarial e acadêmica.
As universidades desempenham papel fundamental no processo de sustentação de um ecossistema rico em inovações, uma vez que a produção e a disseminação de conhecimento e a formação de pessoas são seu principal core business. Os organismos governamentais desempenham funções em diferentes esferas institucionais, como financiamento, regulação e aquisição. Já as empresas passam a exercer um papel educador e formador de mão-de-obra, além de financiarem e usarem boa parte das inovações geradas para fins comerciais. Das sobreposições de seus respectivos espectros de atuação nascem os chamados organismos híbridos (exemplos: UniversidadeXEmpresa as incubadoras; EmpresasXGoverno os Cursos Técnicos e Profissionalizantes e UniversidadeXGoverno as Fundações de Pesquisa).
A inovação precisa do conhecimento, da criatividade e de um bom ambiente para que possa florescer e dar frutos aos seus “donos”, assim como de uma boa dose de equilíbrio entre o intangível e o tangível.
A idéia e a sua aplicação prática, assim como a relação harmoniosa entre os agentes econômicos, políticos e sociais envolvidos, são fatores essenciais que possibilitam que este fluxo de inovação seja sistêmico. Só assim, teremos uma equação em que todos ganham… e continuem ganhando, efeito fundamental para que o equilíbrio harmonioso supra-citado seja mantido. Afinal, não existe inovação de qualquer espécie que não demande, no final do arco-íris, um pote de ouro guardado àqueles que nela investiram e acreditaram, mesmo que este pote de ouro esteja recheado não só de benefícios econômico-financeiros, mas também sociais e políticos.