O real valor das empresas atualmente não está mais nos balanços. Nenhum investidor razoável pode se dar ao luxo de analisar uma empresa como ativo somente tendo como seu balanço como guia. Lá, de forma transparente, estão relacionados somente os ativos tradicionais das corporações, como máquinas, estoques, volumes de vendas, edificações, performance financeira, dentre outros. Entretanto, tudo isso hoje responde por apenas “metade” do valor das empresas. A outra metade está no conjunto de ativos que os balanços não conseguem capturar e exprimir – os intangíveis. É neles que está seu verdadeiro valor diferencial.
Peguemos o exemplo mais clichê: Coca-Cola. O levantamento de 2007 da consultoria inglesa Interbrand a colocou como a marca mais valiosa do mundo, avaliada em 67 bilhões de dólares – 64% desse valor atribuído aos chamados ativos intangíveis, como reconhecimento da marca e reputação.
Para a Economática, sistema de análise de investimento em ações, o valor de mercado da Coca é 6,28 vezes o equivalente ao seu balanço contábil. Seu valor de mercado estava avaliado em 135 bilhões de dólares em 2008. Novamente, a leitura é a mesma: essa diferença se deve fundamentalmente ao valor de seus ativos intangíveis. A bebida em si virou pretexto – por mais que agrade aos 900 milhões de pessoas no mundo que compram Coca-Coca diariamente. Existem outras motivações embutidas em cada gole, para cada consumidor ou grupo de consumidores.
Já os investidores compram ações da empresa por outros motivos: confiabilidade da marca e empatia com a empresa estão aí, em grandes goles.
Em seu famoso livro “Capital Intelectual – a Nova Vantagem Competitiva das Empresas”, o americano Thomas A. Stewart, editor da revista Harvard Business Review, compara as empresas IBM e Microsoft. Enquanto a primeira tem um volume de vendas maior, é a segunda a mais valiosa. Em 1996, especialmente emblemático, a IBM possuía 16 bilhões de dólares em bens móveis, fábricas e equipamentos. A Microsoft somava 930 milhões, mas seu valor de venda, traduzido pelos papéis negociados na bolsa superava em muito a oponente. Ou seja, Microsoft – assim como Wal-Mart e Toyota – não se tornou uma grande empresa por ser mais “rica” que a IBM – assim como Sears e General Motors –; ao contrário. “Mas tinha algo muito mais valioso do que ativos físicos ou financeiros. Tinha capital intelectual”, diz Stewart. É o que os consultores americanos Jonathan Low e Pam Cohen Kalafut, chamam de vantagem invisível, nome que batiza o livro da dupla. “Na economia atual, a vantagem aumenta não para a empresa com as maiores fábricas ou com o maior capital, mas para aquela que faz o melhor trabalho de administração de seus intangíveis”, escrevem.
As empresas notadamente voltadas a atividades de pesquisa e desenvolvimento, outro intangível de peso, como as da indústria farmacêutica, por exemplo, também são valorizadas pelo mercado. Com base no final do ano 2001, o valor de mercado da Pfizer era 18,2 vezes maior que o seu valor contábil. O índice da Merck, no mesmo período, era de 8,3 e da Schering-Plough era de 7,4.
Uma das maiores autoridades mundiais em intangíveis, Baruch Lev, professor de Contabilidade e Finanças da Stern School of Business de Nova York, vê ligação direta entre “despesas” (estão mais para investimentos) com pesquisa e desenvolvimento e o retorno das ações. Estudos de Lev comprovaram a relação positiva e estatisticamente significativa entre a medida do valor de mercado das companhias e variáveis como quantidade de patentes, impacto da citação e ligação com a ciência. Avaliando dados de 1983 a 2000, de empresas que investem sistematicamente em pesquisa e desenvolvimento, ele concluiu que o retorno do investimento destas companhias e sua valorização no mercado ultrapassam a média do mercado de forma contínua.
O boom tecnológico no fim da década de 80 levou muitos a cogitar que a presença do homem praticamente desapareceria dos meios de produção, graças a maior eficiência das máquinas. Duas décadas depois, o foco no valor humano volta a ser um dos pilares da moderna gestão empresarial. A Siemens mundial vinculou ao capital intelectual entre 60% e 80% do valor agregado da empresa nos últimos três anos. No mercado brasileiro, a valorização inicial de 120% – entre maio e dezembro de 2004 – das ações da Natura foi atribuída principalmente ao capital humano da empresa.
O valor humano faz parte de uma vertente organizacional que eleva marcas, conhecimento e capacidade de inovar a patamares semelhantes ou mais elevados que equipamentos e capital financeiro, quando se trata de estabelecer a hierarquia dos valores de uma organização. Assim, os intangíveis estão presentes em todos os setores, tornando praticamente ultrapassada a definição tradicional de setor econômico.