Isto é Dinheiro – Outubro, 2016
Google lança cinco produtos que parecem cópias da concorrência, mas seu objetivo é proteger seu reinado na publicidade online
Estratégia: em evento nos EUA, Sundar Pichai, CEO do Google, diz que a inteligência artificial se tornou a prioridade da companhia ( foto: AP Photo/Eric Risberg)
Poucas empresas são tão inovadoras como o Google. A companhia está na vanguarda das pesquisas do carro autônomo e dos óculos inteligentes. Mas, na semana passada, a companhia de Mountain View, na Califórnia, mostrou que também sabe copiar ao lançar cinco produtos que são amplamente vendidos pela concorrência. Os principais foram o smartphone Pixel que, apesar de trazer um novo sistema operacional Android e uma das melhores câmeras do mercado, veio muito parecido com o iPhone 7, da Apple. A empresa fundada por Sergey Brin e Larry Page apresentou ainda o seu tão esperado Google Home, assistente pessoal usado para automação em residências.
O dispositivo, no entanto, é concorrente do Echo, da Amazon, vendido apenas nos Estados Unidos. A companhia mostrou também o Daydream VR, óculos de realidade virtual parecido com os do Facebook e da Samsung. Os cinco produtos anunciados protegem o Google de avanços dos rivais em uma nova fronteira do setor tecnológico. “A inteligência artificial se tornou a prioridade da empresa”, disse Sundar Pichai, CEO do Google, durante o evento em São Francisco. “E isso ficou demonstrado nessa primeira leva de aparelhos próprios.” Nessa área, o gigante de buscas na internet está atrás dos concorrentes.
Pior: os assistentes pessoais Alexa, da Amazon, Cortana, da Microsoft, e Siri, da Apple estão usando o motor de busca Bing, desenvolvido pela Microsoft. Hoje, eles representam uma pequena parcela do mercado de buscas. Mas a tendência é que cresçam. O Google, claro, não quer ficar de fora dessa festa, que, ao que tudo indica, que será grandiosa no futuro. A consultoria Gartner avalia que assistentes pessoais devem ter movimentado US$ 360 milhões em 2015. A expectativa é que cheguem a faturar US$ 2,1 bilhões em 2020. A verdadeira intenção do Google com essa safra de produtos é manter seu reinado nas buscas online, de onde sai quase a totalidade de suas receitas.
No ano passado, a Alphabet, controladora do Google, arrecadou US$ 59,6 bilhões com publicidade decorrente de seus sistemas de buscas. O resultado, que a colocou na liderança global, é 166% maior do que o segundo colocado, a The Walt Disney Company, que arrecadou US$ 22,45 bilhões. “O sistema de buscas é, por enquanto, o epicentro do Google”, diz Daniel Domeneghetti, CEO da consultoria E-Consulting. “A empresa pensa sempre no ecossistema de oferta, no qual os produtos são vistos como ferramentas.”
Ao entrar na área de hardware, o Google começa a controlar todo o ecossistema tecnológico, assim como faz a Apple. Dessa forma, os consumidores passam a contar com seus serviços de forma integrada e a usar a sua busca – não custa lembrar que só assim o gigante de internet consegue mostrar seus anúncios que enchem o cofre da companhia. “O Google é uma empresa horizontal”, afirma Domeneghetti. “Vem para competir para valer, mas o foco específico não é o produto, é a composição da oferta.” O Google ficou mais parecido com Apple, Amazon e Facebook. Mas isso parece pouco importar, se o reinado das buscas online permanecer intocado.