O Brasil viveu, durante muitos anos, períodos de grande turbulência em sua economia, se sujeitando a taxas inflacionários de até 3 dígitos, mudanças constantes de moeda e planos econômicos heterodoxos, dentre outros. Agora, nossa realidade faz-se valer dos calos adquiridos pelas duras batalhas travadas na busca pela estabilização e o país consegue operar com um mínimo de racionalidade e previsibilidade macro-econômicas.
Apesar da grande pujança de seu mercado interno e do fato de estar localizado a uma distância razoável do epicentro do terremoto financeiro que abala o mundo desenvolvido, pode-se dizer que, no universo corporativo, os efeitos da crise têm sido, em grande parte, minimizados pela experiência adquirida nos tempos turbulentos de outrora, quando planejamento e ações de curto prazo eram praticamente a mesma coisa.
Mesmo com a afirmação de Guido Mantega de que será muito difícil alcançar a taxa de 1% de crescimento econômico em 2009, de fato ainda não sentimos um efeito dramático nos níveis de atividade como um todo, à exceção de alguns setores fortemente dependentes de exportações, de ampla oferta de crédito ou de variação dos preços das commodities. A verdade é que a economia brasileira crescia pouco quando todo mundo crescia muito e agora, que todos perdem muito, o Brasil perde menos.
As políticas macroeconômicas acertadas do governo, aliadas à boa capacidade de gestão em situações adversas de nossos executivos, parecem ter composto um bom escudo face às projeções catastróficas alardeadas nos quatro cantos do mundo.
O desafio estratégico é minimizar os efeitos das variáveis aleatórias, das causalidades que podem afetar negativamente o negócio, e conseguir enxergar oportunidades nas fendas abertas pelo terremoto; afinal enquanto uns choram outros vendem lenços.
Criatividade e bom senso são as principais armas para se dissociar da crise. Outras ações, como cortes de custos, transformação de dívidas de curto prazo em longo prazo, demissões, racionalização de investimentos e controle de gastos, dentre outros, já estão na pauta de praticamente todas as empresas. Nos dias de hoje, os ganhos advindos devem ser suficientes para manter as organizações respirando, revestidas de um figurino mais enxuto e eficiente.
As grandes oportunidades de transformação setorial ou de redefinição das escalas de liderança em determinadas indústrias, requerem soluções inovadoras e diferenciadas que dispõem do potencial para alavancar a competitividade da empresa frente a seus concorrentes, mas com ampla probabilidade de não serem priorizadas e implementadas neste momento.
Entretanto, olhar para um futuro macroeconomicamente não promissor, ver o que todo mundo vê, mas de uma forma diferente, enxergando o que ninguém enxerga, requer que os gestores modernos busquem, forçosamente, alternativas que não necessariamente fazem parte da pauta para decisão de curto prazo.
Inovar, com sucesso, é sempre uma arma estratégica poderosa e, geralmente, alavanca para saltos relevantes de crescimento, faturamento e ganhos de market share.
Em alguns casos, a inovação pode estar associada à construção de relacionamentos produtivos e comerciais com players complementares, a fim de se promover a criação de produtos e serviços que podem gerar grandes rupturas nos padrões vigentes de negócios e/ou estimular novos mercados e hábitos.
A indústria automotiva, por exemplo, começa a investir com muito mais ênfase na viabilização de carros elétricos, o que é sem dúvida uma disrupção profunda nos moldes atuais. A Toyota com 60% da Panasonic, a Nissan associada à NEC e a Honda à GS Yuasa focam esforços relevantes na pesquisa e aperfeiçoamento de baterias de íon-lítio, no intuito de viabilizar uma frota de carros elétricos em maior escala.
Casos como estes podem fazer parecer que a inovação seja algo fora de contexto num cenário recessivo, uma vez que para que se possa gerá-la com efeitos comerciais e financeiros significativos, necessita-se de tempo, recursos e apetite ao risco suficientes. Por outro lado, também podemos considerar que esse tipo de inovação pode se tornar a grande “sacada” e a grande fonte de receitas e lucros em uma determinada indústria nas próximas décadas. Portanto, inovar visando o longo prazo, sem esquecer de equacionar as variáveis relevantes para gerar resultados no curto prazo parece ser a combinação ideal para momentos de crise, como o atual.
A garantia de sobrevivência evolutiva de uma empresa, associada a uma posição mais privilegiada na cadeia de negócios, será benefício da organização que estiver mais preparada para vir a ser ou a fazer, no futuro próximo, algo que hoje não é ou não faz, hoje.