Atualmente, tornou-se senso comum dizer que a evolução humana obtida nas últimas décadas dificilmente se compara com outros momentos históricos em termos da quantidade (e qualidade) do conhecimento e inovações desenvolvidas, sejam elas de cunho humano ou tecnológico. Realmente é um fato inconteste que, conforme aumenta o acesso à informação e ao conhecimento, o ser humano, nos seus diversos chapéus e papeis sociais, evolui na forma como se relaciona com o meio e com seus semelhantes.
O que nem sempre está claro é para onde este novo ser humano evolui, ou seja, quais as conseqüências e impactos que o contexto tem em sua formação e evolução.
Quando olhamos o aspecto profissional – dada sua relevância, uma vez que é das principais dimensões humanas – nos questionamos quem será esse novo trabalhador/funcionário/colaborador (o que deseja o que lhe motiva, como se relaciona com seu empregador, etc) e o que será exigido dele para que possa ser bem sucedido e se realizar profissionalmente.
Com estas e outras interrogações em mente, elaboramos o White paper “O Novo RH e o Colaborador 2.0 – A Redefinição do Modelo e da Gestão de Recursos Humanos”, com o objetivo de analisar e entender como os novos direcionamentos de mercado, pressões competitivas e tecnologias está redefinindo o modelo de gestão de recursos humanos e o papel desempenhado pelos colaboradores nas empresas modernas.
Consideramos tal compreensão essencial para qualquer corporação que deseje se manter atrativa para a nova safra de talentos, bem como rentabilizar o produto do cérebro e da produção de seus colaboradores, o Capital Intelectual, transformando-o em ativo estratégico de valor e diferencial competitivo relevante.
Em linhas gerais, pudemos identificar 3 grandes tendências em Recursos Humanos que analisamos em detalhe:
- Colaboração: como as novas tecnologias e ferramentas na Internet (Web 2.0: blogs, comunidades, wikis, etc) estão alterando a forma como o trabalho e a interação profissional acontece? Como as equipes se beneficiam das redes sociais e colaborativas? Como este processo de aprendizado contínuo agrega valor à produção dos indivíduos e times? Como este processo redefine os modelos de trabalho e formatos de interação colaborador-empresa?
- Conhecimento: o Conhecimento, maior ativo estratégico das empresas, passa a ser personalizável customizado e organizado para a aplicação e obtenção de resultado. Como obter tais resultados? Como sistematizar a gestão deste conhecimento e torná-lo útil e aplicável aos colaboradores? Como componentizar lições aprendidas, metodologias, modelos, processos, conteúdo para replicabilidade e aceleração de produção, ganhos de escala e aceleração de aprendizado?
- Auto-Gestão: a autonomia e o empowerment concedidos ao colaborador exigem novos deveres e responsabilidades individuais, mas também abrem portas para novas formas de evolução e desenvolvimento profissional.
Qual o novo norte do colaborador? Como ele aprende e evolui? Como gerenciar o colaborador EU S.A., este novo colaborador fruto da reformatação dos modelos de emprego existentes? Como manter a empresa atrativa para que estes colaboradores queiram continuar trabalhando, produzindo, agregando valor e maximizando sua performance?
Uma vez que compreendemos estas 3 grandes vertentes de impacto, pudemos identificar as mutações pelas quais a atividade de Recursos Humanos deverá passar rumo a um novo modelo conceitual e de gestão. Porém, antes se faz necessário entender do que se trata esse novo contexto e suas variáveis de impacto.
Macro Contextualização
Como principais variáveis de pano de fundo e premissas para este documento têm:
- Globalização, não apenas na acepção do termo como acontecimento econômico, mas principalmente cultural, onde a comunicação e disseminação de informações atingem níveis de personalização próximos da individualização (proximidade), reduzindo o impacto e papel das grandes mídias e mensagens,
- Valor Intangível, como centro da discussão dos objetivos de corporações e indivíduos, impulsionando a revisão desde modelos contábeis até indicadores de retorno de investimentos (principalmente no momento atual de uma crise impulsionada pela sede de valores tangíveis em detrimento do intangível),
- Governança Corporativa, trazendo maior transparência nas práticas corporativas e na forma como a empresa gerencia e se relaciona com seus stakeholders, dentre eles seus colaboradores diretos e indiretos,
- Sustentabilidade como movimenta de ampliação da percepção de impacto e do papel das empresas e indivíduos em seu entorno,
- Convergência, apontando um cenário de integração crescente entre devices (aparelhos, hardwares) e softwares no acesso e disseminação de conteúdo (informação e conhecimento) em multiformatos, redefinindo os modelos e processos de trabalho e interação colaborador-empresa-equipes,
- Movimentos de Consolidação de Mercados (Fusão e Aquisição), tendência em 8 de 10 mercados que exige uma nova engenharia de Recursos Humanos na concepção da Visão e Valores para as novas empresas resultantes e na gestão fluida de Cultura Corporativa,
- Equipes Globais e Transnacionais, como grande desafio para a integração e sinergia entre esforços e recursos geograficamente dispersos e que trabalham sob ordens de valores, culturas e códigos diferentes,
- Trabalho Remoto e Disponibilidade 24hs, também como decorrência da existência das equipes globais e transnacionais, operando a distância do ambiente corporativo (valores e cultura), em locais diversos e tecnologias convergentes (casa, aeroporto, etc),
- Funcionário 2.0, o novo funcionário, que utiliza as ferramentas e ambientes virtuais (Blogs, Foruns, Wikis, etc) para ganhar poder, gerar mídia, compartilhar opiniões e experiências, interagir com outros colaboradores, comparar situações e aumentar sua influência,
- Geração Y, a nova força de trabalho com novas tendências comportamentais e culturais que não atendem aos modelos de trabalho, remuneração e incentivo dominantes nas empresas hoje em dia,
- Empowerment EU S.A., conformeos colaboradoresganham poder decisório e autonomia, como garantir sua produtividade, grau de alinhamento com a visão da empresa e ainda reduzir os riscos do processo decisório?,
- Change Management, como processo que permeia as empresas para a implementação de novas metodologias, modelos, tecnologias e ferramentas, que exigem mudança de mindset e hábitos corporativos.
Dentre as muitas variáveis de impacto, destacamos estas 12 variáveis como as principais em relação a sua influência na redefinição do papel, da atividade (prerrogativa corporativa) e dos processos de Recursos Humanos.
Nas próximas 3 seções, detalhamos como as 3 tendências centrais (Colaboração, Conhecimento e Auto-Gestão) são influenciadas. Compreendê-las e adaptar o modelo de RH sob a visão de seu impacto é crucial para a aderência às novas demandas competitivas.
Colaboração: O Impacto do Universo 2.0 no Trabalho
Mais que uma revolução, a Internet é uma onda contínua de revoluções.
Atualmente vivemos a onda 2.0, a onda colaborativa que alterou profundamente a forma como os colaboradores interagem entre si e com as empresas.
O novo colaborador, o Colaborador 2.0 tem características próprias que o distingue de seu predecessor. Quem é este colaborador 2.0 em suas próprias definições?
- Sou aberto à experimentação e potencialmente infiel às empresas;
- Uso redes de relacionamento para procurar novas oportunidades e ficar atento às opções de evolução de minha carreira;
- Engajo-me em comunidades para trocar informações sobre práticas e políticas corporativas, assim como conhecimento temático e sobre práticas relevantes para minhas atribuições;
- Busco aprender e evoluir a partir da aquisição de informações, experiências e conhecimento existentes e disponíveis, buscando acelerar ao máximo a produção e entrega de minhas responsabilidades;
- Prefiro trabalhar com projetos definidos e estimulantes do que em processos repetitivos e de baixo valor agregado;
- Gosto de usar a Web para me comparar aos meus pares dentro da empresa e com outras empresas;
- Analiso elementos e características da minha empresa, trabalho e projetos que participo, dividindo com meus pares e liderados os desafios que se apresentam;
- Gero mídia e conteúdo, ampliando meu poder de atuação e influência na empresa;
- Utilizo as tecnologias existentes e convergentes para maximizar minha produção e processos de comunicação com as outras pessoas na empresa;
- Não ligo para comunicação dirigida “chapa-branca” da empresa (canais tradicionais de comunicação unilateral da empresa).
Tais características demonstram um perfil de colaborador absolutamente novo, que a maioria das empresas ainda não está acostumada, ou mesmo habilitada a identificar, qualificar e lidar.
O grande complicador é que este colaborador 2.0 tem múltiplos chapéus sendo também o cidadão 2.0, acionista 2.0 e o colaborador 2.0 – além de seus muitos outros chapéus. E uma vez que o componente 2.0 entra no mundo profissional, a forma de trabalhar não é mais a mesma, pois o colaborador 2.0:
- Utiliza profissionalmente as diversas ferramentas digitais (e-mail, MSN, Skype, etc);
- Realizam projetos e troca informações em blogs, fóruns, wikis e comunidades;
- Interagem de forma remota com seus pares, líderes e liderados, a partir de qualquer local (casa, aeroporto, etc);
- Divulga informações (positivas e negativas) sobre a empresa, sua cultura e princípios, seu trabalho e as pessoas que trabalham na empresa, sejam em blogs, redes sociais, seja em comunidades da Web;
- Participa de comunidades temáticas e profissionais na Web.
A empresa deve se relacionar com este novo profissional através de novos canais e disponibilizar os ambientes e ferramentas que incentivem sua produtividade.
Antes a relação empresa/público interno era pautada no uso tradicional de canais off-line ou online unidirecionais.
A partir da adoção de ferramentas de informação, relacionamento e colaboração online a empresa sofre uma revolução sem precedentes, deixando de ser um relacionamento tradicional (off-line), estático (online 1.0) e unilateral para um relacionamento online 2.0 colaborativo, multi-atores, em rede, como mostra a figura abaixo.
Dessa forma, temos a evolução significativa da interação e do processo de comunicação em relação à suas características e benefícios centrais:
ANTES | DEPOIS |
UnilateralMassificadoDistante
Impessoal Não Interativo Não Colaborativo Não Experiencial Passivo Informação |
MultilateralPersonalizadoPróximo
Pessoal Interativo Colaborativo Experiencial Ativo Conhecimento |
O Capital Humano e a Geração do Capital Intelectual
O Capital Intelectual é o resultado da produção do Capital Humano, do cérebro humano, da multiplicação/agregação do conhecimento de todos na empresa.
Na atual conjuntura, é o elemento diferencial que lhe proporciona maior vantagem competitiva. Nesta nova dinâmica dos mercados, sob a influência e importância do valor intangível, o investimento no Capital Humano deve necessariamente ser traduzido em resultados de Capital Intelectual, ou seja, valor para a empresa e para o indivíduo.
Essa concepção implica não só em uma revisão na forma como a performance e os resultados de cada colaborador são avaliados, como também na maneira como a organização se estrutura em redes, hierarquias e estruturas e esta nova arquitetura potencializa a qualidade de gestão de RH na organização, desde a concepção estratégica, até a implementação e monitoramento das ações e projetos.
Uma empresa pode ser considerada como uma polarizadora de diversas redes e sub-redes, um vetor multidirecional de relacionamento muitos para 1 para muitos (NX1XN).
Nessa visão de arquitetura de redes auto-concebidas, incentivadas e integradas, quanto maior for à capilaridade, produtividade e alinhamento de utilidade dessas redes às demandas e culturas corporativas – interna e principalmente externa – mais conhecimento poderá ser extraído a partir das diversas conexões (nódulos de conhecimento), localizados em ambientes colaborativos, gerados a partir da participação de múltiplos usuários com pontos de vista e backgrounds distintos.
Porém, a forma de potencializar e explorar o conhecimento gerado pelas redes e comunidades depende da expertise e capacidade de cada colaborador individualmente na forma como gerencia as Trocas, Relações e Relacionamentos com os demais participantes dessas redes e com a empresa em si.
Dentre os principais benefícios que as corporações e colaboradores podem obter por meio do uso de redes e ambientes colaborativos podemos destacar:
- Acesso a públicos heterogêneos com múltiplos pontos de vista sobre determinado tema de interesse,
- Troca de experiências, melhores práticas e benchmarks de/para determinada finalidade,
- Disponibilidade de informações primárias e tácitas,
- Participação em redes e comunidades de práticas,
- Trabalho colaborativo em equipes muldisciplinares,
- Auto-aprendizado,
- Transbordamento dos job discriptions e expansão dos campos de especialização,
- Gestão centrada em projetos,
- Multi-funcionalidades X multi-papéis simultaneamente, em diferentes projetos e atribuições (líder, liderado, recurso, gestor, etc),
- Remuneração variável (modelos e finalidades).
Auto-Gestão: Autonomia e Empowerment ao Colaborador EU S.A.
Com a tendência crescente da colaboração remota e da projetização do trabalho, a empresa cada vez mais deixa de ser responsável pelo bem-estar do colaborador, na visão matriarcal do termo, e passa a ter a função de disseminar de conhecimento e ferramentas de auto-gestão essenciais para que ele tenha a autonomia e empowerment necessário para atuar neste novo ambiente colaborativo em redes. Dentre as principais habilidades, o colaborador deverá:
- Aprender os métodos de trabalho e produção através dos ambientes e ferramentas colaborativas,
- Gerenciar seu volume de trabalho e produtividade (métricas de produtividade: esforço + resultado) X demandas de entregas, prazos e qualidade,
- Obter sinergia e integração com os demais colaboradores, respeitando fusos- horários, culturas locais e momentos produtivos individuais (capacidade de passar o bastão e terminar a maratona).,
- Formalizar e disseminar o conhecimento gerado por seu trabalho, maximizando o aprendizado dos demais e componentizando este conhecimento para apropriação corporativa como acelerador produtivo para novas empreitadas e projetos,
- Cumprir metas e prazos estabelecidos de acordo com os padrões corporativos, operando com liberdade dentro dos valores e cultura corporativa conhecidos,
- Planejar seu caminho de desenvolvimento profissional, co-construindo seu plano de carreira e capacitação profissional com o RH da empresa que trabalha (ou seja, empresa momentaneamente seu talento),
- Gerenciar seu tempo e definir o modelo de conciliação de sua vida pessoal e profissional (disruptura modelo 08-18h)
- Preservar e fomentar os Valores e Cultura Corporativa, tornando-se líder (formal ou informal) perante os demais e o mercado.
Nesse contexto, o novo papel do colaborador passa não só por adquirir e desenvolver estas novas habilidades, mas sim de saber utilizá-las corretamente de acordo com o contexto ao qual está inserido, principalmente ao passo em que a desestruturação das hierarquias formais de poder, decisão e comando e a horizontalização das arquiteturas corporativas se tornam realidade. Assim, é imperativo a este novo colaborador:
- Compreender claramente seu próprio perfil e de sua equipe (líderes, pares, liderados, etc), que poderá variar em:
a) Perfis Individuais: Coach, Líder, Liderado, Centralizador, Diplomata, etc
- Ter a capacidade de interpretar corretamente os diversos contextos situacionais e assumir seu papel ideal ou alocar seus recursos corretamente, que poderão ser:
a) Lideranças Situacionais: Par, Chefe, Subordinado, Opositor, Apoiador, etc
- Faz parte do novo pool de skills necessários para se atuar de forma excelente nos novos contextos corporativos.
A Nova Gestão de Recursos Humanos
Uma vez compreendidas as 3 principais tendências de Recursos Humanos – Colaboração, Conhecimento e Auto-Gestão – e seus impactos na atividade e no modelo de gestão de Recursos Humanos, podemos identificar que a área atualmente é responsável por múltiplas atividades de naturezas e dinâmicas distintas, que exigem esforços específicos. Desta forma, um novo modelo de gestão se faz necessário, onde as atividades de característica processual, recorrente e de baixo valor agregado seriam agregadas em uma arquitetura funcional de Shared Services, enquanto as atividades de desenvolvimento do Capital Intelectual – para a geração de ativos intangíveis e ganhos de competitividade – teriam uma arquitetura específica, como mostra o desenho abaixo:
A partir de tal reordenação de naturezas e relevâncias de atuação e gestão, as corporações e seus colaboradores poderão esperar os seguintes benefícios:
- Eficiência e resultados nos processos de captação, aculturamento, treinamento, incentivo, promoção e retenção de Recursos Humanos,
- Potencialização de movimentos de Change Management (viralização),
- Homogeneização da cultura e dos valores corporativos,
- Gestão do Conhecimento como acelerador de aprendizado,
- Aumento da satisfação dos funcionários,
- Maior interação, engajamento e sinergia,
- Redução do turn-over,
- Alinhamento corporativo em termos de visões, valores, princípios e cultura corporativa.
Os desafios se fazem presentes e a revisão dos conceitos, práticas, estruturas e prerrogativas do Novo RH, para este novo Colaborador 2.0, se tornam imperativas e decisivas na Empresa do Séc. XXI.
É certo e consensado que o mercado mudou substancialmente e, com ele, os modelos de trabalho e as demandas estabelecidas aos colaboradores.
Uma nova Estratégia de RH, que considere variáveis como Novos Modelos de Trabalho, Alinhamento de Valores Empresa-Colaborador, Transparência e Comunicação Eficaz, Mensuração de Performance, Associação de Ganhos Empresa-Colaborador, Multiplicidade de Papéis, Maximização do Uso do Conhecimento, Desenvolvimento de Redes Colaborativas e Apropriação Corporativa do Valor do Capital Intelectual como Ativo de Valor não são mais idéias ou tendências a serem avaliadas.
Ao contrário, esses itens devem, cada qual a seu modelo, profundidade e formato, de acordo com a cultura, mercado e estratégia de cada empresa, ser tratado como vetor fundamental para a competitividade da empresa e sua evolução como organização social e produtiva.