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Ao longo dos anos que compõem a história de nossa formação acadêmica e profissional, acostumamo-nos a respeitar, reverenciar e admirar os grandes feitos, iniciativas, modelos, hábitos e tendências produzidas fora de nosso país.

Moralmente abalados por uma série de infortúnios e decepções marcantes nas últimas décadas, desacreditamos em nossas instituições e menosprezamos nossas realizações. Literalmente, deixamos de praticar a nossa auto-estima.

Colonizados que fomos, assistimos impávidos às contínuas exaltações das grandezas do velho continente e seu conservador estilo de vida e história ou, principalmente, das maravilhosas inovações, do consumismo desvairado e das infalíveis instituições da América do Norte. A nós, vassalos sulamericanos, era facultado apenas ler, ouvir e aprender a toda a sorte de literaturas e enlatados que fizessem reverência à magnitude da gente de fora.

As evidências eram claras. O Brasil era uma república de bananas com democracia insipiente, instituições frágeis, presença internacional insignificante, economia em frangalhos e moeda desqualificada.

As duas décadas (1985–2004) que desperdiçamos com o advento da Nova República representavam a confirmação inequívoca de nossa condenação ao ostracismo. Justamente numa época em que o mundo conheceu o seu período mais próspero, o Brasil vivenciou a sua era mais tenebrosa em crescimento econômico, criação de empregos e geração de riquezas e oportunidades.

Aos inconformados com este status quo, como nós, restava a mera pretensão de permanecer como coadjuvantes, espectadores e consumidores dos modelos e idéias impostos pelos sábios de fora e, eventualmente, marcar um ou outro gol, principalmente em épocas de Copa do Mundo.

No mundo corporativo, propriamente dito, o fascínio, deslumbramento e sedução impostos goela abaixo dos colonizados começou a ser colocado em xeque com a bolha da Internet, a enrolação do bug do milênio, o apogeu e derretimento das empresas de TI e telecom e a incrível adulteração de balanços e ganhos corporativos de empresas como Enron e Worldcom, com a rubrica antes inquestionável de empresas como a Arthur Andersen.

Começamos a vislumbrar que os tais analistas, pensadores e gurus, ditadores de modelos e tendências, eram humanos e que seu interesse maior era empurrar conceitos, crenças, modismos e práticas dos EUA a todas as partes do mundo para seu próprio deleite e locupletação, fosse esta intelectual, social, política, mercadológica, psicológica, econômica ou mesmo financeira. O próprio Tom Peters, um dos primeiros gurus internacionais do management corporativo, teve a cara de pau de admitir que tinha induzido e fabricado os estudos que o levaram à condição de celebridade do mundo dos especialistas em gestão, quando do lançamento de seu livro “Em Busca da Excelência” e, ainda assim, continuou seduzindo (ou enrolando) plateias, audiências e leitores.

Na área de serviços, a atenção e os cuidados com os consumidores se transformaram em artigo de luxo, um outro engodo encapsulado com a tarimba de ganhos de eficiência, redução de custos e aumento de produtividade. No país do McDonald’s, a regra básica se tornou padronizar e comoditizar pedidos, serviços, rotinas e procedimentos, monitorando comportamentos presumidamente previsíveis de seus submissos súditos consumidores, que aceitaram se tornar massa de manobra, ou melhor, massa de consumo.

A criatividade, espontaneidade e autonomia para interações e serviços pessoais, características do início do varejo americano dos anos 50, simplesmente foram expulsas do repertório do parco menu de treinamento ofertado ao profissionais de serviços norte-americanos, ao mesmo tempo em que o custo de seu emprego se tornava impeditivo para os acionistas ávidos por maiores EBITDAs, o que induziu fortemente, nos últimos 25 anos, sua substituição por máquinas e sistemas que traziam consigo a promessa de não ficarem doentes, engravidarem, falharem ou mesmo processarem a empresa.

Efeito prático, com o tempo as pessoas simplesmente desaprenderam a praticar e desenvolver relações interpessoais ou manifestar a mínima vontade ou preocupação em satisfazer anseios e expectativas dos que buscam serviços e assistência.

O pior é  constatar que o outrora antenado e exigente consumidor americano se resignou com estas práticas e procedimentos e mais do que se acostumou a se auto-servir remotamente, arcando, inclusive, com os custos para tal. A nação que inventou e escreveu as regras de gestão e a indústria de serviços perdeu o rumo, robotizados e hipnotizados pela bipolaridade global, pela promessa japonesa, pela cegueira tecnológica e suas conveniências, incapazes de cobrir a totalidade das necessidades e manifestações renováveis de consumidores e indivíduos em constante mutação.

Hoje, o lema por lá parece ser “vire-se ou dane-se”. E a contrapartida máxima dos consumidores em transe é expor a sua irritação e indignação na Web, em comunidades sem fim. É muito pouco e o efeito é diminuto quando se atesta que empresas tradicionais apresentam centenas de milhares de citações e comentários negativos nas redes sociais e, apesar desta mácula em sua reputação, convivem com imagens desgastadas e, mesmo assim, continuam apresentando balanços e resultados invejáveis e crescentes. Em qual país os direitos dos consumidores são mais respeitados?

Sob o manto da maior crise financeira da história contemporânea, despontou uma série de práticas, abusos, desvios contábeis, propagandas enganosas, declarações mentirosas de lideranças, trapaças e toda a sorte de artimanhas dignas de políticos bolivaristas de terceiro mundo e dos antigos ditadores comunistas do tipo “pra inglês ver”, só que aconteceram no sagrado e imaculado templo do capitalismo democrático.

Não é  por outro motivo que o Governo Obama vem canalizando esforços para criar um código de regulamentação financeira para proteger os consumidores das mentiras e enganações perpetradas pelos sagazes ases do mercado financeiro americano, sempre perspicazes em vender gato por lebre, mestres em criar modelos capazes de derivar US$1 de verdade em US$5 de fumaça.

A despeito da exuberância do tamanho da economia americana e de seu mercado financeiro, como foi possível ao seu Banco Central desconhecer a alavancagem de suas instituições e interferir corretivamente, como é sua função? Em qual país a atuação do Banco Central é conservadora a tal ponto de conhecer em tempo real a liquidez do sistema, com total transparência? Aparentemente os EUA estão pagando preços altos por seus erros pela primeira vez. De imagem à reputação, de admiração a respeito, de atratividade a alinhamento, a nação mais poderosa do mundo só fez perder de 10 anos para cá.

Entretanto, mesmo reconhecendo sua representatividade em termos de tamanho e suas perspectivas de crescimento nos próximos 20 anos, ainda em 2009 nos parece bastante distante a aceitação da ideia de que seremos, como planeta, liderados em termos de conceitos, valores, práticas, tendências, mercados e negócios por nações tão díspares e específicas como China e Índia. E aí vem a pergunta: como ficará a equação global daqui para frente?

Os Estados Unidos ainda são, de fato, a maior potência do mundo. E a principal nação. Nação em todos os sentidos. Segunda pátria do mundo, a pátria por escolha, a agora duvidosa terra das oportunidades. Economia, política, posicionamento, liderança, valores, tecnologia, inovação… os Estados Unidos mereceram seu posto e têm uma única chance – com Obama agora – de reverterem parte dessas tendências de aversão global e, efetivamente, manterem sua posição para os próximos 10 anos.

O problema descoberto agora – e que não é nenhuma novidade – é que para ser líder é preciso saber liderar com visão, justiça e integridade. Quando a ganância, o protecionismo e o exagero assumem o lugar da ambição, do equilíbrio e do bom senso, um líder tem suas credenciais seriamente ameaçadas e sua convocatória questionada. Os romanos, portugueses, espanhóis, ingleses e alemães (estes em devaneio), ao longo dos últimos 2000 anos, pagaram os preços do ego sobre a razão; os EUA estão colhendo doloridamente os frutos negativos de sua liderança egoísta e auto-centrada. O mundo está cansando de políticas unilaterais, de vitórias esmagadoras e pressões comerciais. O modelo norte-americano de fazer globalização não se sustenta mais. A cortina do free-market-no-matter-what caiu como caiu a cortina de ferro 20 anos atrás. “Nem tanto ao mar, nem tanto a terra”, diriam aqueles que cultivam licenças poéticas.

Esse processo cego se esgotou. Cada vez mais os países europeus e seus grupos organizados, os asiáticos, africanos e sul-americanos estão se questionando sobre os benefícios da globalização e se desvinculando do chamado americanismo de fé.

Ainda sim, o mundo real e a economia global precisam de mediadores políticos e tradutores econômicos eficazes. As questões internacionais são delicadas e precisam ser analisadas tanto localmente quanto globalmente. Os EUS ainda podem fazer esse papel, mas de outro jeito. A discrepância nefasta ocorre quando o mediador, com todo seu poder e prerrogativa, advoga e julga em causa própria. Isenção, coerência e interesse maior são qualidades mais que necessárias para quem quer assumir o papel de líder global. E parece que os americanos, principalmente no Governo Bush, se esqueceram disso. Vem, portanto, a questão: Is Barack for real?

Se quiserem continuar a liderar, os Estados Unidos precisarão compreender que são a nação mais importante do globo, mas não a única nação importante no globo. Precisarão buscar sua essência como país e aceitarem dividi-la com os outros países, absorvendo, também, a essência de nós, outros. Os BRICs e a União Européia jogam abertamente o xadrez do posicionamento global e o assentamento de forças e poderes não será mais tão yankee com fora até o final da década de 90.

Diziam que o Brasil era o país do futuro. Não é. Mas é um dos… E isso é muito!

O problema é que nós, brasileiros, historicamente não acreditamos nisso. Ou, se acreditamos, esperamos esse futuro chegar, cair do céu, ser-nos dado de presente, pronto para uso e consumo.

Isso era típico do Brasil de ontem. Futuro não se espera. Futuro se constrói. E precisamos acelerar a construção do nosso já. Futuro local e global. Quem? Nós, brasileiros, atuando e trabalhando em commodities e valor agregado, em produtos e serviços, em pesquisa e desenvolvimento, em inovação e diferenciação, em comunicação e criatividade, no servir e no se relacionar como só o brasileiro é capaz.

Somos o país da flexibilidade e da adversidade convergente, um milagre racial, religioso e político. Estamos nos assumindo cada vez mais como competentes. É nisto que acreditamos… e que devemos, a cada dia mais, acreditar.

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