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Parece existir em cilos mais tradicionais dos meios acadêmicos a dogmática opinião de que pessoas com boa formação universitária não devem decidir pela vida empresarial, pelo “comércio” ou pela “aventura”.

O mais preocupante é que esse conceito tem, enganosamente, certo fundamento histórico, se levarmos em conta o modo como foi estruturada a filosofia de ensino e direcionamento profissional conduzidos pelas universidades mais longevas do país.

 

Por conta de nossos programas de fomento à identificação dos principais talentos universitários, como o Programa Titãs do Conhecimento (www.institutotitas.com.br), amplamente associado ao empreendedorismo universitário e às chamadas Empresas Juniores, temos presenciado incansáveis discussões entre alunos de grandes universidades em que se percebe claramente uma enorme tendência pela opção por uma carreira corporativa em grandes empresas (o atraente pacote “corporate size + corporate card + corporate benefits”), em detrimento à busca da realização profissional através da germinação de um negócio próprio e, em seu âmbito de atuação, contribuir para alavancar o potencial econômico do país.

O curioso é que muitos dos que incutem nos universitários essa visão de que o empresariado bem sucedido no Brasil é para poucos e que a vida do pequeno empreendimento não compensa (sem contar aqueles, como alguns partidos de esquerda e algumas novelas televisivas, que vendem a idéia de que ser empresário no Brasil é ser operador de falcatruas) são os mesmos que, paradoxalmente, recheiam a literatura de negócios e economia com fervorosas defesas do incentivo à iniciativa privada e à inovação.

Não queremos aqui entrar em discussões sobre a inegável validade política, econômica e social da iniciativa privada como poderosa força econômica, motor da inovação macro e micro-econômica e fundamental agente infuenciador de mercado e, muito menos, desconsiderar aqueles que com seu extremo talento, capacitação e inteligência atuam e se realizam como excepcionais executivos e colaboradores grandes, pequenas e médias corporações que tanto contribuem para o progresso do país. O que simplesmente não pode continuar acontecendo é este incansável culto, nos meios universitários, ao ingresso dos profissionais recém-formados em empresas líderes de mercado ou de imagem, como única forma de se alcançar sucesso profissional e, principalmente, pessoal.

Mas é óbvio que a capacitação técnica-acadêmica deve, cada vez mais, fazer parte da realidade de formação dos empresários brasileiros, porque o outro lado desta corrente, que prega que para se ter sucesso como empreendedor não há necessidade de se estudar muito, é igualmente negativo.

 

Essa opinião, tão comumente encontrada em qualquer círculo de discussões sobre a relação do empresariado com os universitários choca-se totalmente de frente com o modelo de desenvolvimento adotado pelos países do chamado primeiro mundo.

Em seu famoso livro “O Brasil que dá certo”, o economista e professor da Faculdade de Economia e Administração da USP, Stephen Kanitz, citou uma pesquisa realizada pela revista Fortune na turma de 1.946 da Harvard Business School, em que, após alguns anos de formados, verificava-se que metade dos ex-alunos dessa turma se tornara grandes executivos (das 500 maiores empresas dos EUA), enquanto a outra metade abrira seu próprio negócio (sendo que alguns destes figuravam na lista dessas mesmas 500 maiores empresas). Já no Brasil, a revista Exame, pesquisando o desempenho dos alunos formados na turma de 1.956 pela Fundação Getúlio Vargas, concluiu que 98% de seu total se tornara gerentes ou diretores de grandes empresas nacionais e multinacionais e 1% deles professor da mesma instituição. Ou seja, apenas 1, dentre todos, havia aberto seu próprio negócio!

O porquê desta enorme diferença?

Nos Estados Unidos, ter um negócio próprio significa encontrar e aplicar um estilo próprio de atuação que leva em conta, entre outros aspectos, a capacidade de gerir e de enfrentar, como ser humano e profissional, os obstáculos e barreiras impostos constantemente pela vida empreendedora. Em outras palavras, conceber esta estrutura e vencer com ela significa a aceitação e o respeito da sociedade, ou grande parte dela, por esse estilo.

Já no Brasil – país acostumado à intempéries em todos os campos e, portanto, historicamente muito mais sujeito ao risco – estabilidade e segurança acabaram constituindo-se naturalmente em estados de espírito almejáveis à grande maioria das pessoas de boa formação. A impressão que marca ao analisarmos os últimos 50 anos – porque com a estabilidade econômica e o salto de crescimento do pais isto deve mudar paulatinamente – é que a vida empresarial se tornou opção daqueles que não possuiam nem a visão e nem o senso analítico necessários para enxergar uma situação que, em regra geral, apresentava poucas chances de sucesso e de realização (portanto uma situação propícia a quem não tem nada a perder, para a “aventura”).

Fato é que o processo está diametralmente invertido. É ponto pacífico que o país precisa oferecer condições e facilidades para viabilizar o surgimento e existência de novos empreendimentos e, de certa forma, vem melhorando muito neste quesito. Também é fato que a sociedade, em geral, sabe disso. Mas, sem dúvida, muito do que ainda se ressente na atual conjuntura é a falta de orientação e foco acadêmico ao empreendedorismo, assim como o aumento da propensão e participação de muitos dos recém-formados e profissionais altamente capacitados, que dispõem de totais condições para oferecer as mais significativas e carentes contribuições ao país, no recompensador desafio de fazê-lo.

Voltando à literatura, o que ainda ocorre no Brasil, é claramente um grande desperdício do seu enorme potencial privado bem sucedido.

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