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O Brasil atravessa um momento único em sua história. De um lado, empresas familiares ganham força no mercado, crescem a taxas expressivas e saltam aos olhos de potenciais investidores. De outro, companhias mais consolidadas estruturam-se para abrir seu capital e lançar ações em bolsas de valores no País e fora dele. Com isso, surgem os desafios de comunicar ao mercado suas práticas e modelos de gestão e oferecer ao investidor informações detalhadas sobre a organização. Às companhias de capital fechado fica o desafio de adotar práticas de governança corporativa com o objetivo de melhorar seus processos e, no futuro próximo, quem sabe, internacionalizar e lançar-se mais atrativamente na bolsa de valores.

O modelo empresarial brasileiro há alguns anos passa por uma fase de transição em que as empresas, até então, em sua maioria de controle e administração eminentemente familiares e controle acionário concentrado, com acionistas minoritários passivos e conselhos de administração sem poder de decisão, ganham nova estrutura. As companhias conquistam investidores institucionais, fragmentam o controle acionário e aportam maior foco na eficiência econômica e na transparência de gestão.

Vários fatores têm influenciado a favor dessas mudanças, incluindo privatizações, movimentos internacionais de fusões e aquisições, impactos da globalização, necessidades de financiamento e, conseqüentemente, os custos do capital e a postura mais ativa de atuação dos investidores institucionais nacionais e internacionais.

A relação direta entre a boa governança corporativa e a valorização de uma empresa pode ser percebida pelo comportamento de ações listadas na BM&FBovespa pelas companhias que adotam as boas práticas de governança. Os dois principais índices que medem a valorização das companhias adeptas da boa governança têm superado o IBOVESPA, termômetro das mais negociadas. O IGC (Índice de Ações com Governança Corporativa Diferenciada), que reúne todas aquelas listadas no Novo Mercado e nos Níveis 1 e 2, valorizou-se 27,2% ao ano, em média, entre 2001 e 2006. No mesmo período, o IBOVESPA cresceu 22,8% ao ano. O Índice de Ações com Tag Along Diferenciado (ITAG), que inclui ações com melhores condições aos acionistas minoritários em caso de alienação de controle, aumentou 54,3% ao ano desde 2002, quando foi criado. Desde então, o IBOVESPA subiu 35,5% ao ano. Ainda, o IPID (Índice de Performance em Intangíveis DOM), mostra que as empresas que melhor gerenciam seus intangíveis estratégicos, como governança corporativa, têm performado, em média, 30% acima do IBOVESPA.

A real relação de causa e efeito entre a adoção de boas práticas – como um Conselho Fiscal independente, membros externos no Conselho de Administração, ações com direito a voto para todos os acionistas, tag along, adesão à Câmara de Arbitragem, etc – e o valor das empresas em Bolsa ainda é muito debatido. Estudos publicados nos últimos anos ainda não deram a palavra final, mas sugerem que sim: a qualidade dos sistemas de decisão, fiscalização e solução de conflitos societários das companhias tem reflexos positivos em seu valor de mercado.

A principal premissa dos pesquisadores é que as empresas com boa governança são mais procuradas pelos investidores, o que resulta na redução do seu custo de capital e na valorização de suas ações. Evidências nesse sentido foram levantadas por Leora Klaper e Inessa Love, em 2004, ao analisarem 374 grupos em 14 países emergentes, a partir de um índice criado pelo Credit Lyonnais Securities Asia. Outros acadêmicos também notaram a correlação positiva da boa governança e o valor de mercado em países como Estados Unidos, Suíça, Coréia do Sul, China e Brasil.

Um sistema de governança corporativa eficiente pode gerar, além da redução do custo de capital, um conjunto de benefícios internos que melhoram as perspectivas de fluxo de caixa da companhia. Dentre esses benefícios, estão o aprimoramento do processo decisório da alta gestão e a separação clara de papéis entre acionistas, conselheiros e executivos. Também ocorre uma melhoria dos mecanismos de avaliação de desempenho e recompensa dos executivos e uma diminuição da probabilidade de ocorrência de fraudes e corrupção. E, ainda, a maior institucionalização e a melhor imagem da companhia.

Questões desse tipo são levadas em consideração pelos investidores de longo prazo, especialmente os institucionais, quando definem quanto estão dispostos a pagar por uma determinada ação.

Tratar a boa governança como um ativo intangível estratégico para a empresa, na medida em que esta caminha na direção da transparência, da ética e comunicação com seus públicos de interação, é desafio fundamental para as empresas que almejam ser respeitadas, admiradas e desejadas (i.e., seus produtos, marcas, ações…).

Transparência, admiração, boa imagem, atratividade, credibilidade, confiança e respeito são alguns dos conceitos associados à boa reputação corporativa. E, como todos sabemos, uma reputação sólida e positiva é tudo que uma empresa (ou marca) deve almejar de melhor como ativo.

Assim, se reputação é o nome do jogo, uma marca bem cuidada ao longo dos anos vale mais do que qualquer ganho de curto prazo, ainda mais se o tempero de credibilidade e confiança desta marca for uma boa dose de governança corporativa.

 

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