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Estadão – Outubro, 2016

Até alguns anos, pouca gente dava atenção aos quadros existentes em boa parte das empresas listando seus valores. Por um bom tempo, as frases presentes ali eram consideradas apenas decorativas, mesmo que tivessem um propósito sério pela empresa. E, para os candidatos às vagas existentes, significavam muito pouco ou quase nada.

O CEO da Dom Strategy Partners, Daniel Domeneghetti, conta que em alguns casos os quadros presentes em um grande banco ou em uma padaria eram exatamente iguais. “Isso acabou banalizado em um conjunto de normas que não pautaram nada de concreto. As empresas continuavam fazendo as coisas do mesmo jeito”, lembra.

No entanto, este é um contexto que começa a mudar. A disseminação do uso das redes sociais transformou os profissionais em atores propositivos. “Hoje eles colaboram mais, comparam mais e isso provoca uma série de questionamentos nunca antes feitos. Esses colaboradores começaram a pautar as empresas, e a primeira coisa que eles derrubam são os quadros de valores”, diz Domeneghetti.

“A pergunta que tem que ser feita não é por que, mas para que. Quando empresas e colaboradores conseguirem responderem o mesmo ‘para que’, estaremos chegando em algum lugar” - Daniel Domeneghetti, CEO da Dom Strategy Partners

“A pergunta que tem que ser feita não é por que, mas para que. Quando empresas e colaboradores conseguirem responderem o mesmo ‘para que’, estaremos chegando em algum lugar” – Daniel Domeneghetti, da Dom Strategy Partners

E o movimento se explica. Segundo o executivo, uma empresa que tem 36 valores não tem nenhum e, quando percebe isso, esta nova geração de profissionais começa a questionar. “A pergunta que tem que ser feita não é ‘por que’, mas ‘para que’. Quando empresas e colaboradores conseguirem responderem o mesmo ‘para que’, estaremos chegando a algum lugar.”

Mais do que isso, Domeneghetti acredita que nos dias de hoje não há como um profissional trabalhar sem ter o mesmo “para que” da empresa ou do grupo social a que pertença – e mora aí o desafio a ser enfrentado pelas companhias. “Essa é a grande questão do trabalho nos próximos dez anos: como criar expectativas comuns entre empresa e funcionários, sem que a empresa se torne uma ONG ou um clube”, provoca.

A head de Recursos Humanos da Siemens Brasil, Sylmara Requena, reforça que a questão do propósito está cada dia mais presente nas escolhas dos profissionais, que avaliam o quanto a empresa produz para outras pessoas, o quanto ela agrega ao seu entorno e, principalmente, se eles querem ou não fazer parte dessa história. “Essa preocupação dos profissionais com o propósito representa, na verdade, a evolução do trabalho, que hoje não é apenas um meio de sobrevivência, mas uma forma de realizar coisas nas quais acreditamos”, afirma.

Estudo e ação
Um estudo realizado em 2015 pela ADP, empresa especializada em soluções de gestão de capital humano, mostra que o propósito já está entre as cinco principais necessidades avaliadas pelos candidatos na hora de escolher um lugar para trabalhar (as outras quatro são liberdade, conhecimento, autogestão e estabilidade). Mariane Guerra, vice-presidente de Recursos Humanos para a América Latina da ADP, explica que a pesquisa foi realizada com cerca de 2,4 mil pessoas, de empresas com 250 funcionários ou mais.

“No Brasil, 77% dos respondentes disseram precisar trabalhar em projetos que lhes digam algo. Isso começa a se refletir nas práticas de RH”, diz Mariane, lembrando que sua empresa contrata cerca de 400 pessoas por ano e não são raros os casos de profissionais que aceitam ganhar o mesmo ou menos porque se encantaram com o projeto da empresa.

77% dos respondentes disseram precisar trabalhar em projetos que lhes digam algo" - Mariane Guerra

77% dos respondentes disseram precisar trabalhar em projetos que lhes digam algo” – Mariane Guerra, da ADP

E há diversas formas de encantar. Na Netshoes, por exemplo, as propostas de valor são elaboradas pelos próprios funcionários. Sergio Povoa, diretor de RH do Grupo Netshoes, conta que os valores e a cultura da empresa foram revisados há dois anos, quando a companhia entrou no negócio de moda. “Até então falávamos de esporte e, de repente, tínhamos que falar de moda. Surgiu daí a necessidade de revisarmos os valores para que os funcionários se conectassem com qualquer tipo de negócio que colocássemos aqui dentro.”

Para isso, os funcionários da empresa foram chamados para contar histórias que achavam importantes ser divididas, mostrando comportamentos que deram resultados surpreendentes. Destas discussões saíram valores muito próximos aos grupos. Um deles é “descomplica”. “Todos os nossos processos envolvem esse valor. É claro e transparente que todos devem procurar a forma mais simples de executar sua função”, comenta Povoa.

“Falávamos de esporte e, de repente, tínhamos que falar de moda. Surgiu daí a necessidade de revisarmos os valores para que os funcionários se conectassem com qualquer tipo de negócio que colocássemos aqui dentro” - Sergio Povoa, diretor de RH do Grupo Netshoes

“Falávamos de esporte e, de repente, tínhamos que falar de moda. Surgiu daí a necessidade de revisarmos os valores para que os funcionários se conectassem com qualquer tipo de negócio que colocássemos aqui dentro” – Sergio Povoa, do Grupo Netshoes

Além dos valores, a empresa procura criar um ambiente acolhedor, que se traduz na inexistência de dress code, horários flexíveis, bicicletas e mezanino com meia quadra de basquete para que os funcionários possam relaxar. Para o diretor de RH, ambiente e valores vão se conectando naturalmente, criando engajamento e compromisso.

Os valores criados pelos funcionários da Netshoes
1. #descomplica
2. #tesão por fazer
3. #dono do negócio
4. #gente valorizada
5. #rápido como um click
6. #foco no resultado
7. #aqui eu posso
8. #romper padrões

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